O olhar caído em direção a uma parede demonstra a profunda tristeza de Vovó, uma mestiça de fila que vive no Centro Municipal de Proteção aos Animais de Novo Hamburgo (Cempra), desde que foi abandonada pelos donos no mês passado. Com cerca de dez anos, a cadela tem artrose e quase não sai da baia dividida com Mamãe, cadela abandonada no meio da gestação. As duas moram no mesmo local com outros 138 cães e gatos à espera por adoção.
– É no período de dezembro e de janeiro que mais ocorrem abandonos de animais. Não temos mais como recolher outros porque o nosso espaço é para, no máximo, 110 de pequeno porte. Estamos com 140 de grande porte. Há uma superlotação – explica a diretora do Cempra, Marcela Nunes.
Tristeza
Existente há 15 anos, o canil municipal localiza-se em Lomba Grande e especializou-se em recolher animais de rua doentes ou em situação de abandono. Todos, depois de recuperados, são colocados para adoção. O problema, ressalta Marcela, é que nem sempre surgem interessados em acolher um rejeitado, como é o caso da dócil Vovó.
– Desde que ela (a cadela) chegou, quase não late e sempre pede carinho. A tristeza está nos olhos dela – comenta a diretora.
Ao contrário de Vovó, as amigas vira-latas Pirata, com manchas pretas, e Lola, de pelagem bege, já se acostumaram com a falta de visitas. Dividindo a mesma baia, as duas não se desgrudam desde que chegaram ao Cempra, há seis anos. Estão entre as mais antigas moradoras. Por já terem chegado com mais idade, acabaram ficando. E são as que mais se alegram quando surge uma visita. Mesmo tendo apenas parte do rabo, Lola o sacode de faceirice e se aproxima das pernas dos visitantes para receber um afago.
Conscientização
Entre os que aguardam um novo destino estão cães e gatos cegos, idosos e cadeirantes, como Motoca, uma serelepe cadela de cinco anos que perdeu os movimentos das patas traseiras. Há um ano, ela chegou ao Centro depois de ser recolhida nas ruas com sintomas de cinomose. A doença acabou afetando a parte motora da cadela. Recuperada, passou a se arrastar pelas dependências do Cempra e acabou conquistando a simpatia de voluntários, que a presentearam com uma cadeira de rodas. Hoje, Motoca está pronta para ser adotada.
Segundo Marcela, o levantamento mais atual da prefeitura aponta que existem 36 mil animais de rua em Novo Hamburgo. Número que a diretora acredita ser praticamente impossível de ser reduzido, se não houver a atuação da população.
– Nosso objetivo é conscientizar as pessoas de que os animais não são descartáveis e que precisam de cuidados. Eles levam amor à qualquer família – resume.