Em um certo fim de tarde, o engenheiro civil Frederico Peixoto, 38 anos, estava com outros quatro amigos em um bar, na Rua Padre Chagas, em Porto Alegre, quando todos concordaram em esticar o happy hour. Ligaram para os amigos mais próximos, convidando para um churrasco. Ninguém podia.
- Bem que a gente podia ter um grupo de solteiros no WhatsApp - riu Frederico.
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Mas logo ele pensou que aquela ideia poderia realmente funcionar. Ali mesmo, criou um grupo e convidou os quatro amigos, determinando que eles convidassem, cada um, mais seis pessoas (todos foram transformados em administradores, para estarem habilitados a isso).
E as seis convidaram, cada uma, mais seis. A novela é longa, mas acaba assim: em um mês, cem integrantes no grupo Incríveis S.A., que de meros desconhecidos viraram parceiros para toda e qualquer programação: do supermercado ao skate, do surfe ao churrasco, da balada ao chimarrão.
Eles recorreram ao aplicativo preferido dos solteiros. Conforme levantamento do site de relacionamentos virtuais Par Perfeito, o WhatsApp lidera como a ferramenta mais eficiente para paquerar online, de acordo com 53% das mulheres e 41% dos homens entrevistados.
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- É possível mandar imagens, mensagens de voz e de texto, e isso facilita muito a linguagem e a revelação das intenções de alguém - afirma a consultora de relacionamento do Par Perfeito, Rosana Braga.
Ser solteiro é pré-requisito
Embora alguns casais tenham se formado no grupo dos Incríveis, eles garantem que o objetivo não é a "pegação", mas a amizade. Peixoto, por exemplo, é natural de Santiago, no interior do Rio Grande do Sul, e não estava satisfeito com a vida que andava levando na Capital, onde mora há quatro anos e meio.
- Eu ia da casa para o trabalho, do trabalho para casa, com momentos de diversão muito raros. Sabe quando a gente está infeliz, mas não se dá conta do que está faltando?
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Os Incríveis mudaram também a vida do empresário Allan Noll, 46, que chegou ao grupo enquanto sofria a fossa de uma separação. Tentava se recuperar do baque causado pelo término de um relacionamento de sete anos.
- Foi uma família que abraçou a mim e ao meu filho. Estou quase largando a terapia - brinca Allan.
Os filhos dos participantes, aliás, são presenças assíduas nos encontros, um exemplo que Noll dá para caracterizar a seriedade do grupo. O que não significa que os adultos dispensem um bom agito sem crianças: fazem parte da agenda mensal de eventos feijoadas, baladas, carreteiros, churrascos e outros encontros informais.
Não há requisitos para participar, exceto ser solteiro, conhecido de alguém que já esteja entre os integrantes, ter idade entre 30 e 50 anos e ser uma pessoa alegre e disposta a se relacionar com outras. Se, em um determinado dia, alguém está meio silencioso, não passa despercebido.
- Logo chega alguém para perguntar se estou legal, se estou precisando de alguma coisa - diz Noll.
No grupo, marasmo não tem vez. A enfermeira Vanessa Porto, 33 anos, há dois meses no coletivo, estima que o volume de mensagens diárias chegue a 4 mil.
- Não me sinto mais sozinha. Criou-se um vínculo muito forte em pouco tempo. Não tenho mais domingo triste.
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