O que você faria se soubesse pelas redes sociais que alguém torturou um animal enquanto uma idosa suplicava para que não o fizesse?
Se sua resposta for algo do tipo "compartilharia até chegar à Justiça", pense duas vezes: há o risco de aquela pessoa estar sendo vítima de uma campanha de difamação.
Foi o que aconteceu com a psicóloga carioca Beatriz Breves. Após deixar o cargo de síndica no condomínio em que vive em Copacabana, um morador descreveu em detalhes para seus contatos na rede social como Beatriz tinha pisoteado uma gatinha cega enquanto a mãe deste anônimo, uma senhora idosa, assistia e implorava para que a tortura fosse interrompida.
A psicóloga recebeu os piores insultos, além de ter sido ameaçada de linchamento e morte por usuários do Facebook. Caiu em depressão e precisou voltar para a análise aos 57 anos.
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Após sua recuperação, escreveu, em parceria com a colega Virginia Sampaio, o livro A Maldade Humana - Como Detonar Alguém no Facebook. A obra foi lançada em maio deste ano.
Segundo Beatriz, ela convidou a amiga para escrever o livro em uma tentativa de compreender o que aconteceu e para tornar a crueldade que viveu em algo elucidativo.
Em sua missão para educar os leitores sobre o assunto, as autoras traçam um perfil sobre haters e trolls. De acordo com as duas, a crueldade que é praticada nas redes sociais, que causa inclusive suicídios, é quase uma versão do Coliseu em pleno século 21. Alguém é colocado no centro da "arena" (a saber: a internet) e a massa só quer saber de ver aquele indivíduo ser detonado.
Beatriz dá algumas dicas sobre haters e trolls no livro, aqui reproduzidas. E lembra que é importante sempre relatar casos de bullying e trollagens em geral para pessoas próximas - e, se necessário, às autoridades competentes.
- Na trollagem, usuários (sempre anônimos) escolhem uma vítima específica para desestabilizar. Embora artistas sejam as pessoas mais visadas, trollagens podem ocorrer com um alvo dentro de um grupo de amigos ou uma turma de colégio ou faculdade, por exemplo. O importante é ter plateia.
- Já os haters vão para a internet com o único intuito de odiar, pura e simplesmente. Se ele escolhe odiar você, qualquer coisa que você postar, a pessoa vai odiar e vai divulgar para difamá-lo.
- Em ambas as situações, os usuários lançam uma provocação. Geralmente, eles já conhecem sua índole e seu comportamento. Se descobrem algo que pode lhe irritar ou magoar, usam contra você. Ao reagir, você entra no jogo deles. Por isso, o importante é jamais reagir.
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Beatriz não reagiu aos insultos. Juntou tudo em uma pasta - são cerca de mil mensagens - e deixou a Justiça fazer o seu trabalho. O episódio ocorreu em maio de 2013, mas o internauta que a acusou falsamente foi condenado apenas em março deste ano. Ele aceitou uma transação penal e pagou R$ 1 mil a uma instituição de auxílio a animais de rua.
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Entretanto, há quem resolva a questão sozinho, para o bem ou para o mal. Um dos casos recentes de maior repercussão envolveu uma adolescente de Veranópolis, que tirou a própria vida após ter fotos íntimas divulgadas na rede. A atriz Marina Ruy Barbosa também foi vítima de um usuário mal-intencionado.
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Já a americana Alanah Pearce resolveu o problema com seus haters de uma maneira inusitada. A jovem, que trabalha fazendo resenhas de videogames, vinha recebendo diversas ameaças de estupro pelas redes sociais. Em vez de reclamar com o Facebook ou entrar na Justiça, ela procurou as mães desses haters e reclamou diretamente com elas.
As mães que a responderam pediram desculpas pelos filhos, que provavelmente pensarão duas vezes em fazer ameaças do tipo novamente. Mas Beatriz ressalta que essas estratégias são apenas para os de mente forte: na maior parte do tempo, trolls e haters escolhem pessoas vulneráveis, que provavelmente não vão denunciá-los.