A costureira apertou gentilmente os botões cobertos de seda marfim do corpete de renda. Ela pegou o véu bordado e o colocou sobre os cabelos negros da futura noiva. Amigas e familiares observavam em silêncio, com os olhos iluminados.
- Se você tem um sonho e quer torná-lo realidade, faremos nosso melhor - , afirmou a irmã Maria Laura, uma freira agostiniana enclausurada que costumava trabalhar como costureira.
Em um país que é sinônimo de moda, a irmã Maria Laura comanda um dos estúdios mais improváveis, no mosteiro de Santa Rita, um complexo medieval cravado nas montanhas da Úmbria.
Há anos o mosteiro possui uma loja de vestidos de casamento de segunda mão, que antigamente era frequentado por jovens de famílias carentes. Porém, à medida que a Itália continua a sofrer com as agruras da crise prolongada, o que começou como um ato de caridade para um punhado de mulheres necessitadas se tornou uma escolha estilosa para um número cada vez maior de noivas que não querem exceder os custos do casamento.
Nesse meio tempo, o ateliê se tornou um emprego de tempo integral para a irmã Maria Laura, que comanda a crescente coleção de vestidos doados - que agora entra na casa das centenas - em diferentes tamanhos, comprimentos de caudas e estilos (embora o branco e suas variações pálidas ainda dominem a paleta de cores).
O mosteiro - antigo lar de Santa Rita, que foi uma noiva abusada e viúva antes de se tornar freira há 600 anos - é, há muito tempo, local de peregrinação para mulheres italianas, que vêm para rezar para que a santa proteja seus casamentos. A velha coleção começou quando algumas mulheres trouxeram seus vestidos de noiva como ofertas de agradecimento à santa.
As futuras noivas vinham todas as semanas ao mosteiro, muitas vezes acompanhadas da mãe e das irmãs, como se estivessem visitando uma loja de vestidos de noiva.
- Se não encontrássemos ali, seria impossível comprar - , afirmou Chiara Cariolato, de 21 anos, que vem de uma família de seis irmãos, afirmou ansiosamente em uma recente manhã chuvosa de domingo, enquanto caminhava pelo jardim de rosas do mosteiro, a flor que é tradicionalmente associada à Santa Rita.
Muitas noivas simplesmente fazem doações para demonstrar sua gratidão. Algumas deixaram até 1.200 dólares, afirmou a irmã Maria Laura, já outras não têm nada para dar.
A irmã Maria Laura só recebe as noivas com hora marcada. Cariolato, as irmãs e a mãe deixaram sua cidade natal no norte da Itália às três da manhã para que pudessem chegar ao mosteiro a tempo. Embora ela nunca tenha entrado em uma loja de vestidos de noiva, Cariolato conseguia se ver caminhando em direção ao altar em maio deste ano com o corpete decorado com pérolas, em um vestido esvoaçante.
- Estou parecendo a Jane Austen - , afirmou Cariolato para as irmãs, que não pareciam convencidas, até olhar a seu reflexo no espelho. A parte de cima do vestido era justa, as mangas cheias, a saia tinha cor de ocre e a cauda era longa.
A irmã Maria Laura sorriu e começou rapidamente a escolher outros vestidos. O ateliê foi reformado em outubro, para que pudesse acompanhar a demanda crescente.
- Já sei qual ela vai querer; dá para dizer pelo rosto delas - , sussurrou como quem contava um segredo.
A irmã Maria Laura é uma bênção para as futuras noivas. Antes de adotar a vida monástica aos 28 anos, 20 anos atrás, ela era estilista e costureira na alfaiataria da família em Lucca, na Toscana. Ela sabe dizer imediatamente se é possível modificar um vestido de noiva, e sabe quanto trabalho vai dar para que tudo fique pronto.
Ela também é bastante direta: - Não precisa apertar; você não quer ficar parecendo uma salsicha no dia do casamento - , é algo que ela poderia dizer. - Isso está feio - , disse sem papas na língua para duas noivas ruborizadas em uma manhã fria de janeiro.
Todavia, a irmã Maria Laura afirmou que consegue achar o vestido certo para quase todas as noivas. O que ela mais gosta no trabalho que faz é a emoção que sente quando encontra o vestido ideal.
Ao longo dos anos, a irmã Maria Laura vestiu muitas noivas diferentes - meninas grávidas, mulheres cegas e até mesmo gente que optou por um casamento no civil, não na igreja - e ela têm plena consciência da importância dessa escolha.
- Ahh, estou parecendo a princesa Sissi neste aqui - , afirmou Irene Berardi, uma noiva de 25 anos, enquanto rodava o vestido de tule branco com corpete bordado e luvas brancas que iam até o cotovelo. A referência era um popular filme dos anos 1950 que contava a vida da Imperatriz Elisabeth da Áustria. - Precisamos de um castelo para a festa, mas estamos pensando em fazê-la em uma fazenda -
Berardi e o namorado nunca sonharam com um casamento luxuoso, afirmou. Para eles, isso pareceria um tapa na cara de todos que têm fome e sofrem pelo mundo. Por isso, quando uma de suas amigas falou entusiasmada com a visita que fez à irmã Maria Laura, Berardi decidiu enviar um e-mail ao mosteiro e agendar uma visita.
Algumas horas de conversa e riso se passaram até que ela encontrasse o vestido dos seus sonhos, então ela abraçou calorosamente a irmã Maria Laura ao final, entregando-lhe um envelope com sua doação.
Contudo, escolher o vestido no mosteiro de Santa Rita não se trata apenas de uma transação econômica, explicou Berardi. - Senti-me em casa aqui desde o primeiro minuto, afinal de contas, todas as freiras têm uma vocação e o amor também é uma - , concluiu ela.
Casamento
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