Ano passado, Liz Corry, gerente de produtos de um site de comércio online que mora em Pittsburgh, percebeu que precisava fazer alguma coisa a respeito do seu estoque cada vez maior de amostras de produtos de beleza. Ela esvaziou duas gavetas da cômoda do quarto e transplantou cerca de 600 tubos minúsculos de hidratantes, cremes para os olhos, batons e outras promessas milagrosas em miniatura.
- Eu tive que ir à Ikea comprar caixas e outros tipos de organizadores apenas para mantê-las em ordem - disse Corry, 27, que gasta cerca de 200 dólares por mês em serviços de assinatura de amostras de produtos de beleza, como Birchbox, GlossyBox e Julep (especializado em esmaltes), e avalia cada pacote embrulhado em tecido que é entregue em casa no blog que mantém por hobby, My Subscription Addiction. - Fiquei totalmente viciada.
As amostras existem para deixar o consumidor querendo mais. É por isso que a própria Estée Lauder frequentemente distribuía miniaturas de seus cremes e loções sedosas a desconhecidos, confiando em que seu produto seria a estratégia de marketing mais persuasiva.
Agora um crescente número de serviços de assinatura acabou com o constrangimento de pedir ao atendente do balcão de maquiagem uma amostra grátis. E alguns consumidores estão se deixando levar.
Corry começou com o Birchbox, um clube de beleza em Nova York com mais de 100 mil membros, que tiveram que preencher um questionário para determinar quais tipos de amostras são melhores para o seu tipo de pele, cor de cabelo e "grau de conhecimentos de beleza".
- Quando me dei conta da variedade de coisas que eles distribuem todo mês, eu fiquei com inveja das amostras que outras pessoas estavam recebendo - disse ela. - Então eu fiz uma segunda assinatura deles.Ela também é fã do GlossyBox, que, por 21 dólares por mês, é o mais caro dos serviços, distribuindo "artigos de luxo para viagem" e até produtos de tamanho real de companhias internacionais de cosméticos e produtos para pele, incluindo a Illamasqua, a Phyto e a Burberry Beauty.
Evelyn Nguyen, 25, que trabalha meio período para uma empresa de consultoria e mora em Manchester, Inglaterra, pode se identificar com a cena. Uma vez ela fez cinco assinaturas mensais de clubes do gênero, mas relutantemente as diminuiu para duas (JolieBox e Amarya, focada em produtos orgânicos) quando decidiu conquistar um diploma em Ciências Ambientais. - É muito viciante - disse Nguyen, que guarda seu estoque em uma lancheira da Mulher Maravilha cuja tampa ela não consegue fechar. - Se eu tivesse um emprego de tempo integral, estaria muito tentada a manter todas as cinco.
Sybil Yang, 36, professora adjunta de gerência de hotelaria e turismo na Universidade Estadual de São Francisco, assina três serviços de amostras e se encontra afogada em "pouco menos de 100 amostras", segundo ela. - Metade das coisas que eu recebo eu não vou usar, porque não costumo usar muita maquiagem ou batom, na verdade -, explicou. - Para mim, é a variedade que você recebe. De jeito nenhum eu vou comprar cinco potes de hidratante de 200 dólares.
A Birchbox foi aberta em 2010 por duas alunas formadas na Faculdade de Administração de Harvard, Katia Beauchamp e Hayley Barna. - Nos sentimos atraídas pelas miniaturas - contou Beauchamp. - Você consegue conhecer e interagir com o produto sem compromisso, e isso é maravilhoso.
Mas ela diz que o objetivo maior da empresa é fazer com que os consumidores satisfeitos com as amostras voltem e comprem o produto inteiro pelo site, que distribui pontos para as avaliações.
- Cinquenta por cento das nossas assinantes já compraram conosco os produtos inteiros, então há muitas transações - disse Beauchamp. - Claro que haverá pessoas diferentes que usam o serviço por razões diferentes.
Na verdade, muitas mulheres se tornaram tão preocupadas em manter suas coleções que as publicaram na internet para fazer trocas com outras assinantes. "É uma comunidade enorme no momento", disse Nguyen, membro do grupo do Facebook Beauty Box Swaps.
- Eu realmente não uso muita coisa de maquiagem, então tento trocar - disse Yang, que ocasionalmente usa o chat do fórum MakeupTalk.com, um site popular para as famintas por amostras que reclamam sobre as amostras que receberam, dividem as desgraças sobre entregas atrasadas e fazem trocas com outras assinantes. - É meio que um jeito de provar ainda mais produtos. Eu tinha muito pouco a perder, exceto pelo envio, que custa dois dólares.
Linda Hoare, 26, enfermeira assistente que vive em Bremer, Washington, e mantém quatro assinaturas, já enviou 68 trocas desde maio. - Se eu recebo uma das caixas com amostras e tem um produto ou alguma coisa que eu gosto bastante, mas ainda quero testar outros, eu tento trocá-lo - explicou ela. - Eu achei esse condicionador hidratante que eu adorei, e eu fiz uma troca com uma garota, e ela acabou me mandando, tipo, umas oito embalagens.
Hoare, mediadora da MakeupTalk.com, também começou a fazer trocas "circulares" mais intrincadas: um tipo de Irmandade das Amostras Viajantes. Supervisionada por voluntárias e esquematizadas através de chats em fóruns de trocas, uma troca começa com uma garota, que inaugura o pacote com 20 ou 30 amostras e envia para a próxima participante. Ao receber a sacola mágica, a garota pode pegar qualquer coisa que ela goste, contanto que ela reponha uma amostra que ela não queira, e assim por diante. Hoare disse que é a mesma emoção de uma corrente por carta, com a diferença que "você está fazendo isso com uma caixa cheia de produtos de beleza".
Mas alguns profissionais da indústria não querem participar.
- Eu, pessoalmente, odeio amostras - disse Jessica Richards, que é uma das donas da Shen, uma boutique de beleza de elite em Nova York e que vende linhas de luxo como Amanda Lacey e By Terry. - Como eu vou entender sua marca e sentir o peso do frasco e a textura da sua embalagem?
Já que muitas das marcas nas prateleiras da Shen são linhas independentes, Richards tem que pagar por seus testes; ela cobra 1 dólar e 50 centavos por um potinho com duas aplicações. A maioria volta para comprar, ela disse, mas alguns tiram proveito.
- Eles entram e perguntam tudo e querem uma amostra de tudo - contou Richards. - E aí, eles voltam em algumas semanas e pedem as mesmas amostras que experimentaram da outra vez, então você percebe que eles gostam, mas não vão comprar. E eu entendo. Talvez você esteja um pouco duro. A economia está ruim. Mas todo mundo percebe e todos nós sabemos quem eles são.
The New York Times
Cresce o número de assinaturas de amostras grátis de maquiagem
Serviços na internet acabam com o constrangimento de pedir provas no balcão de produtos de beleza
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