Por Fernando Goldsztein
Empresário
O que teriam em comum Leonardo da Vinci, Benjamin Franklin, Steve Jobs e Albert Einstein? Segundo Walter Isaacson, biógrafo desses ilustres personagens, todos foram incrivelmente criativos e imaginativos. Além disso, tinham quatro caraterísticas em comum: eram extremamente curiosos; amavam as artes e a ciência; tinham uma espécie de visão distorcida da realidade, isto é, viam o que os outros não enxergavam; e possuíam um senso de maravilhamento infantil, com uma constante excitação com as descobertas.
Quando perguntado sobre quem, das pessoas vivas hoje, ele colocaria à altura deles, Isaacson não hesita:
– Jeff Bezos.
Isaacson escreveu a introdução do livro Inventar & Vagar: Princípios e Filosofias da Amazon e Blue Origin, que reúne todas as cartas anuais escritas por Bezos aos acionistas da Amazon, de 1997 até 2019.
Tenho grande admiração por Bezos e pela Amazon. Bezos enxergou, lá em 1994, que algo importante estava para ocorrer na forma dos seres humanos se relacionarem. A internet, ainda desconhecida da maioria das pessoas, já crescia 2.300% ao ano, e isso despertou sua atenção. Tomou então a difícil decisão de largar um bom emprego em Wall Street para mergulhar na venda de livros online. O resto é história.
A Amazon transformou completamente o varejo e o comércio mundiais e hoje é responsável por incríveis 50% das vendas online nos Estados Unidos. Tem nada menos do que 1,3 milhão de funcionários e seu valor de mercado supera a incrível cifra de US$ 1 trilhão.
O espírito inovador de Bezos é impressionante e manifesta-se frequentemente ao longo do livro. Em uma das cartas, ele escreve: “Nossa paixão pelo pioneirismo vai nos levar a explorar passagens estreitas, e, inevitavelmente, muitas vão acabar em becos sem saída. Porém, também haverá algumas poucas que se transformarão em largas avenidas”.
Mas a parte mais fascinante narrada está no final, quando Bezos discorre sobre sua grande paixão, a empresa aeroespacial Blue Origin. Ele acredita que o destino dos seres humanos na Terra será o da escassez e do racionamento em função da deteriorização cada vez maior dos recursos naturais. Portanto, não vê outro caminho para a humanidade que não seja a conquista do espaço.
Bezos faz uma analogia muito interessante entre a época de fundação da Amazon e o os dias de hoje. Diz ele que, quando enxergou a oportunidade de criar a empresa, viu que toda a infraestrutura já estava disponível para isso, não sendo necessário construir nada. Não precisou criar os meios de transporte, pois os correios, a FedEx, entre outras, já existiam. Não precisou inventar nenhum sistema de pagamentos, afinal, os cartões de credito já existiam. Não precisou inventar os computadores, que já estavam presentes em muitos lares naquela época, ainda que somente para jogar videogame. Não precisou criar infraestrutura de telecomunicações, pois essas já estavam prontas e somente eram usadas para ligações telefônicas. Bezos completa: “Toda essa infraestrutura, que custaria bilhões e bilhões de dólares, já estava pronta. E infraestrutura permite que os empreendedores façam coisas incríveis”.
Pois, na visão de Bezos, o projeto da Blue Origin é exatamente começar a construir a infraestrutura para uma futura colonização espacial. Segundo ele, a dita colonização não se dará em planetas, mas em plataformas espaciais. Isso porque, além de inóspitos, os planetas são muito distantes e requereriam viagens de longuíssima duração. Ele acredita estar iniciando a construção do que será uma “estrada para o espaço”. Sua visão é que, a partir daí, nas próximas gerações, muitas coisas vão acontecer. Com a infraestrutura criada, a criatividade será despertada e surgirá uma nova geração de empreendedores – agora empreendedores espaciais.
Todo um “novo mundo” de oportunidades se abrirá. A propósito, ele próprio estará sendo lançado ao espaço nesta terça-feira (20/7), na primeira viagem tripulada da sua Blue Origin. Realmente, para um homem como Jeff Bezos, o céu não é mais o limite.