Uma sociedade acostumada ao calor e aos trajes curtos na praia, além da nudez histórica no período de Carnaval. Os estrangeiros podem estranhar comportamentos intolerantes do brasileiro em relação à sexualidade, assunto considerado tabu por muitos dos que vivem no país.
Falar sobre o tema na TV aberta gera polêmica. A apresentadora Fernanda Lima sente isso na pele com o programa Amor e Sexo, que aborda temas como relação amorosa, desejo sexual, questões de gênero e comportamento.
Com os ataques e xingamentos que vem sofrendo, a apresentadora da TV Globo precisou bloquear comentários de internautas em suas redes sociais. Na terça-feira (6), o perfil de Fernanda no Instagram, com 3,6 milhões de seguidores, foi fechado para as mensagens de internautas. Ou seja: só é possível ver as postagens, mas não comentar. As mensagens criticavam os temas do programa e, em alguns casos, faziam ofensas pessoais à Fernanda.
Sem mencionar a situação, a apresentadora publicou um trecho do programa nesta quarta-feira (7), alvo de muitas críticas pelo discurso declaradamente feminista.
No episódio que foi ao ar na noite de terça (6), a apresentadora abriu o programa com uma fala incisiva sobre o conservadorismo, prometendo que "a revolução está apenas começando".
— Chamam de louca a mulher que desafia as regras e não se conforma. Chamam de louca a mulher cheia de erotismo, vida e tesão. Chamam de louca a mulher que resiste. Chamam de louca a mulher que diz sim e que diz não. Não importa o que façamos, nos chamam de louca. Se levamos a fama, vamos sim deitar na cama, vamos sabotar as engrenagens deste sistema de opressão. Vamos sabotar as engrenagens desse sistema homofóbico, racista, patriarcal, machista e misógino. Vamos jogar na fogueira as camisas de força da submissão, da tirania e da repressão. Vamos libertar todas nós! E todos vocês! Nossa luta está apenas começando, prepare-se porque esta revolução não tem volta. Vamos sabotar tudo isso? — convidou a apresentadora.
A mensagem recebeu diversas críticas. Uma delas veio do jornalista e escritor Guilherme Fiuza, que disse que atitudes como homofobia, racismo e machismo, condenados por Fernanda Lima no programa, seriam "taras imaginárias" da apresentadora. "Ela lidera uma espécie de Enem audiovisual (conteúdo adulto), cultivando freneticamente a tara pelo fascismo imaginário, a homofobia, o racismo, o machismo e outros fetiches da sua revolução de auditório. Ali rola de tudo, menos amor e sexo", escreveu Fiuza no Twitter.
Mas também houve apoio de personalidades como Maria Ribeiro, Marina Person, Bárbara Paz, Mônica Iozzi, Tainá Müller, Thaila Ayala, Maria Casadevall e Gleici Damasceno, que compartilharam vídeos do programa nas redes sociais. A cantora Elza Soares, de 81 anos, incentivou o discurso de Fernanda e deu repercussão ao caso da vereadora negra e feminista Marielle Franco (PSOL), cujo assassinato ainda não foi esclarecido. "Quem mandou matar Marielle?", questionou Elza. A morte de Marielle também foi tratada no episódio de terça de Amor e Sexo, que era dedicado às mulheres.
No início de outubro, Fernanda deu uma entrevista ao portal do jornal O Estado de S. Paulo e falou sobre a nova temporada do programa. "Quando a gente traz algo que toca a todos, a gente não precisa separar homens de mulheres, gays de héteros, pretos de brancos. Estamos falando com todo mundo e queremos as mesmas coisas: direitos, mais honestidade e respeito", declarou.