O ator e comediante carioca Paulo Silvino morreu na manhã desta quinta-feira (17), aos 78 anos. De acordo com a Central Globo de Comunicação, ele estava em casa, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Afastado da TV desde o ano passado, o humorista lutava contra um câncer no estômago.
Silvino chegou a ser submetido a uma cirurgia para retirar o câncer no ano passado. No entanto, o câncer se espalhou. A família optou que ele fizesse o tratamento em casa.
No Facebook, João Paulo Silvino, o filho mais novo do ator, lamentou a morte do pai: "Que Deus te receba de braços abertos meu pai amado".
Isabela Silvino, filha do humorista, também lamentou a morte do pai: "Amigos, obrigada por todas as mensagens. Ainda estou naquele processar isso tudo. Mas posso dizer que ele foi bem. Sem sofrer".
Rei dos bordões
Em sua carreira artística, Paulo Silvino compôs e interpretou músicas e escreveu e atuou em peças e filmes. Ele começou na música – foi até um dos pioneiros da turma de roqueiros que circulava com Carlos Imperial –, mas foi por meio do humor que Paulo Silvino.O envolvimento artístico veio de berço. Filho do radialista Silvino Netto e da pianista Naja Silvino, ele frequentou os palcos desde a infância. A transição da música para o humor se deu a partir de meados da década de 1960, quando passou a atuar e a escrever esquetes para programas das TVs Tupi, Continental, Rio e Excelsior.
Silvino estreou no programa humorístico TV Ó – Canal Zero, na TV Globo, em 1967. A partir daí, participou de diversos programas de comédia em diferentes emissoras – como Satiricom, Balança Mas Não Cai, Viva o Gordo, Escolinha do Professor Raimundo (todos na Globo), A Praça é Nossa (SBT), e Escolinha do Barulho (Record). Nos anos 2000, o comediante passou a integrar o Zorra Total e, posteriormente, o Zorra.
Seu humor era fortemente baseado em bordões e piadas de duplo sentido. Em sua coleção de personagens estão o porteiro Severino, que imortalizou o bordão "Cara, crachá", e o policial Fonseca ("Gueeenta").
A dor de uma tragédia
A trajetória quase sempre bem-humorada de Paulo Silvino foi marcada por uma tragédia quando Flávio Silvino, seu filho mais velho, sofreu um grave acidente automobilístico. À época com 22 anos, Flávio começava a despontar como ator (havia participado das novelas Vamp e Deus nos Acuda) e como cantor (recém havia gravado seu primeiro CD) quando o carro em que viajava para Cabo Frio foi atingido por um carro-forte. Durante três meses e meio, Flávio ficou em coma, em total estado vegetativo, apresentando os primeiros sinais de reação no início de 1994. Na fase mais aguda, Paulo Silvino dedicou-se exclusivamente ao filho, e seu cotidiano foi tão afetado que o humorista chegou a escrever uma peça sobre o acidente, sem nunca ter tido coragem de encená-la.
Contra o stand-up e o politicamente correto
Em entrevista concedida à Zero Hora, em 2010, Silvino discorreu temas como o stand-up comedy (em voga na época), o humor politicamente incorreto e sobre o bordão "guenta". Leia:
Qual sua opinião sobre essa onda no Brasil de espetáculos humorísticos que seguem o formato americano da stand-up comedy?
Silvino – Acho a maior babaquice achar que esse negócio é novidade. O Zé Vasconcelos já fazia isso nos anos 1950. Agora tem esse monte de gente que é humorista de um espetáculo só,que inventou essa p... de comédia em pé. É babaquice, uma tremenda frescura. Alguém por acaso faz comédia deitado? Tem muito 171 nesse negócio,mas tem gente boa, claro, como o Bruno Mazzeo, o Leandro Hassum, o próprio André Damasceno.
ZH – O conceito do politicamente correto é um restritivo ao seu tipo de humor?
Silvino – Pode colocar aí, se seu editor deixar. Estou c*&%ndo para o politicamente correto. Se eu não fizer piada com negro, judeu e veado, vou ficar sem dizer nada. Os negros se chamam entre si de crioulo, meus grandes amigos são judeus, a veadagem morre de rir quando eu falo "tremenda bichona". O meu cabeleireiro adora o Lobichomem.
ZH – O senhor é conhecido pelas piadas de duplo sentido e por bordões que costumam cair na boca do povo. Qual o mais famoso deles?
Silvino – Sem dúvida é o "Gueeeenta, ele gueeeenta" (do policial Fonseca). Tem um negócio maluco sobre esse bordão. Nos anos 1970, era usado tanto pelo turma da esquerda, no sentido de ter de aguentara ditadura e a censura, quanto pelos militares que batiam e torturavam.
* Com informações de Estadão Conteúdo