Não queria ir, mas fui.
Rotina intensa de trabalho, pouco tempo livre, caminho contramão à minha casa, medo de agulha.
Mas fui.
Aquela velha história. Pai de amigo hospitalizado, na sala de cirurgia cardíaca, precisando de sangue. O mesmo tipo sanguíneo que o meu. Impossível dizer não.
Longe de estar animado, encarando a missão mais como um dever cívico, peguei o carro e fui.
Apresenta os documentos, espera alguns minutos na fila, responde a algumas questões para a equipe de triagem. Do estacionamento à cadeira, não se passaram 20 minutos. A enfermeira puxa papo enquanto prepara o equipamento para o procedimento.
Fica feio se eu desistir agora?, me pergunto em silêncio.
Azar, já tô aqui mesmo, não vou arregar agora, me respondo em silêncio. Fico.
Dez minutos depois e 450 mililitros de sangue a menos e pronto. Acabou.
Nem doeu. Quer dizer, doeu um pouquinho, sim. “É só uma picadinha” é balela da mulher de branco. Aquele milésimo de segundo, até a agulha encontrar a veia certa, é dolorido.
O que ninguém tinha me revelado é a sensação incrível que você tem depois de doar sangue.
Não sei se é o corpo tentando compensar o líquido perdido ou se é a sensação de dever cumprido, mas me sobraram energia e entusiasmo no restante do dia. Descobri que não é clichê. Faz muito bem ajudar os outros. Um gesto simples e grande. Para quem recebe e para quem doa.
Difícil ter certeza de alguma coisa nos dias de hoje, quando tudo muda e a única garantia é de que a novidade desta semana já estará fora de linha na semana que vem.
Das poucas convicções que me restam, uma delas é a de que não faz sentido ter medo de agulhas.
E a outra é: doe sangue.