No plano de retomada das aulas, apresentado nesta quarta-feira (27) pelo governo do Estado, ficou ainda mais evidente o fosso que separa o ensino público do privado. O calendário prevê o recomeço das aulas em 1º de junho, de forma remota, com treinamento de professores e alunos para ambos se familiarizarem com as aulas virtuais. Para pais e alunos de escolas privadas, essa é a realidade desde a metade de março, quando as instituições de ensino foram fechadas.
Não há como ignorar as diferenças estruturais das redes pública e privada nem a condição social dos alunos. Se as escolas particulares puderam trabalhar de modo remoto desde os primeiros dias é porque alunos e professores já são familiarizados com o ambiente digital. As crianças e adolescentes têm computadores, telefones inteligentes e internet de banda larga.
A escola pública está precisando se reinventar. E a máquina do Estado é lenta. Só agora, dois meses e meio depois, os professores serão treinados e os alunos que ainda não dominam a linguagem digital receberão a preparação para aulas remotas. Boa parte não tem computador em casa nem smartphone. Em lugares remotos do Estado, a internet de banda larga é uma miragem. A Assembleia Legislativa firmou acordo com as telefônicas e vai pagar para que professores e alunos tenham um pacote de internet suficiente para preparar, ministrar e acompanhar as aulas, mas persiste o problema dos equipamentos.
Ao manter as escolas públicas e privadas fechadas durante o mês de junho, com possibilidade de reabertura gradual a partir de julho, dependendo da evolução da pandemia, o governador Eduardo Leite deu prioridade à preservação da saúde de alunos e professores. Na entrevista, reconheceu que, sim, haverá perda de conteúdos em 2020. Na retomada, será preciso reduzir a carga horária, talvez dar aulas em dias alternados, para reduzir o tamanho das turmas e garantir a higienização dos ambientes e a distância necessária entre as crianças.
A decisão do Piratini frustrou a expectativa de parte das escolas privadas, que esperavam ganhar autorização para retomar as aulas presenciais, respeitando os protocolos de segurança. O presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), Bruno Eizerik, não contesta a decisão do governo:
— Não há como contestar um trabalho técnico, que coloca a vida em primeiro lugar. É claro que nós gostaríamos de voltar, cumprindo os protocolos, mas entendemos. Todos os setores estão tendo perdas. Provavelmente, vamos ter escolas fechando, mas antes do CNPJ temos de pensar em salvar os CPFs.
Uma pesquisa realizada pelo Sinepe constatou que, se o governo autorizasse, somente 40% das escolas privadas retomariam as aulas presenciais em junho, até porque boa parte dos pais avisou que não se sente segura para tirar as crianças de casa.