A última rodada da primeira fase da pesquisa que apura a prevalência do coronavírus na população gaúcha indica resultado positivo para o Rio Grande do Sul. O estudo aponta que há 20,2 mil pessoas que já tiveram contato com o vírus e desenvolveram anticorpos, contra os 24,8 mil estimados na penúltima etapa, divulgada há 15 dias. Não se trata de queda, mas sim de indicativo de que a contaminação se manteve estável, segundo os pesquisadores.
A outra boa notícia é que estão confirmadas mais quatro etapas para a pesquisa, que integraram uma segunda fase do estudo inédito coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O trabalho começará em junho e será feito com intervalos de três semanas entre cada ciclo de entrevistas e aplicação de testes. A conclusão deverá ser em agosto.
Os resultados que fecham a primeira fase da pesquisa iniciada em abril estão sendo apresentados na tarde desta quarta-feira (27) pelo governador Eduardo Leite e por pesquisadores da UFPel.
Sobre a estabilidade da disseminação apontada pela pesquisa, Leite destacou que as internações por covid-19 ou suspeita também estão se mantendo estáveis: eram 220 em 9 de maio e 225 na terça-feira, dia 26.
O primeiro ciclo de entrevistas e testes estimou que havia 5,6 mil infectados no Estado e nas duas fases seguintes, 15 mil e 24,8 mil, respectivamente. Agora, o dado é 20,2 mil, contra os 6,7 mil registrados oficialmente pelo governo.
— É uma ótima notícia. Mostra que a disseminação se manteve estável. A epidemia não apresentou crescimento detectável no nível populacional. O que sugere que o aumento recente no número de casos oficiais pode estar mais relacionado com o aumento da testagem do que com aumento descontrolado do número de infectados — diz o coordenador do estudo, o epidemiologista Pedro Curi Hallal.
Conforme a nova etapa, Estado tem subnotificação de três casos para cada oficializado. Há um infectado a cada 562 habitantes. Dos 4,5 mil testes, foram oito positivos para a presença de anticorpos, sendo quatro deles em Passo Fundo. Para cada 1 milhão de habitantes, o estudo estima que haja 1,7 mil de infectados dos quais apenas 580 notificados.
Sobre a taxa de transmissibilidade doméstica, ou seja, entre pessoas que moram na mesma casa, o resultado das quatro etapas é de 73% de testes negativos — ou seja, familiares de alguém era positivo e que não foram contaminados — e 27% positivos. A taxa de letalidade no Estado, com base nos casos notificados, é de 3%. Com base nos casos estimados, fica em 0,97%, ou seja, para cada 100 infectados, um morre.
Mas Hallal, que é reitor da UFPel, adverte:
— Essa boa notícia da estabilidade nos casos não pode ser equivocadamente interpretada como confirmação de que a pandemia não é tao grave como parecia. Ao contrário, se a pandemia não está crescendo descontroladamente no Estado é exatamente porque a população gaúcha está cumprindo as recomendações de distanciamento social e higiene pessoal, e tanto gestores quanto pesquisadores estão fazendo a sua parte.
Dados do distanciamento social mostraram que na primeira fase da pesquisa, em abril, 20,6% das pessoas saíam de casa todos os dias. Agora, o número é de 31,5%. Já o percentual de quem ficava em casa sempre era de 21,1% e, agora, 14,5%.
Nas conclusões, a pesquisa destacou que, pelo fato de a prevalência seguir baixa, é necessário aumentar o número de testes e fazer busca ativa, ou seja, examinar pessoas do círculo de convivência de pacientes que tenham ficado doentes. Mais uma vez, o estudo indica que deve haver um olhar atento para Passo Fundo.