Quando se deseja um filho, abrir o envelope com o resultado positivo de um teste de gravidez é das emoções mais intensas para um casal. A policial civil Raquel Biscaglia, 35 anos, não pode compartilhar esse momento mágico com o escrivão Rodrigo Wilsen da Silveira, pai do bebê que cresce em seu ventre. Rodrigo morreu duas semanas antes de a mulher fazer o teste. Morreu diante de Raquel, em um confronto com bandidos, em Gravataí, sem imaginar que o filho planejado desde o início do ano estava a caminho.
A história de Rodrigo e Raquel parece enredo de novela, mas é incrivelmente real. Ela é uma policial aguerrida, que mesmo depois da tragédia não pensa em abandonar a carreira.
– A gravidez vai me dar ainda mais força para retomar a vida normal e voltar à polícia – disse ao repórter Eduardo Torres.
Raquel terá de se desdobrar para criar o bebê, seus outros dois filhos e mais dois de Rodrigo com o salário (parcelado) de escrivã e a pensão de viúva. A dificuldade material pode ser superada com a solidariedade dos gaúchos, que certamente não se furtarão em ajudar se alguém encabeçar uma campanha. Quem se habilita? Duro mesmo será lidar com a ausência de Rodrigo no parto, nos primeiros dias em casa, na vida da família.
O que mais me impressiona em Raquel é a força interior. É a capacidade de ter esperança quando o mundo ao seu redor desmoronou. É a serenidade para processar a ausência do companheiro e interpretar a gravidez como uma bênção:
– Vai ser um pedacinho dele que sempre ficará comigo. Não ficou só tristeza.
Raquel terá de ser mãe e pai dessa criança que, se for menina, ganhará o nome de Lara, escolhido pelos dois. Se for menino, tentará imaginar qual seria a escolha de Rodrigo.
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Aviso aos navegantes: nos próximos três domingos, este espaço será ocupado por outro cronista. Como filha de Deus, eu tenho direito a 20 dias de férias para fugir do inverno.