Descartado sem cerimônia pelo presidente Michel Temer, Osmar Serraglio (que soube da demissão pela imprensa) deu o troco: ao rejeitar o convite para ocupar o Ministério da Transparência, deixou ao relento o suplente Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que perderá o foro privilegiado, aumentando as chances de fechar um acordo de delação premiada. Temer tem bons motivos para temer a delação de Loures, porque ele falava em nome do presidente com empresários do porte de Joesley Batista.
Ao longo do dia, especulou-se sobre a possibilidade de Temer nomear outro deputado do PMDB do Paraná para garantir o foro a Loures, mas a terça-feira terminou com o Ministério da Transparência sem titular. Como a bancada é pequena (são apenas três deputados) e fiel ao senador Roberto Requião, o arranjo ficou difícil. Sorte de Temer, porque seria uma manobra tão escancarada que não teria outra interpretação fora da obstrução de Justiça, crime tipificado no Código Penal.
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Temer já é investigado por obstrução de Justiça – e por corrupção passiva e associação criminosa. Nesta terça-feira, em mais um dia de cão para o presidente, o ministro Edson Fachin autorizou a Polícia Federal a interrogá-lo. Fachin ignorou o pedido do presidente para não ser ouvido antes de concluída a perícia no áudio entregue ao Ministério Público Federal por Joesley Batista.
Pelo menos neste primeiro momento, Temer não precisará ficar cara a cara com os agentes da PF para um interrogatório convencional. As perguntas serão feitas por escrito e ele terá 24 horas para respondê-las. A vantagem para o investigado é que as respostas poderão ser elaboradas com a orientação de um advogado e não haverá vídeos constrangedores como os que resultam dos interrogatórios conduzidos pelos juízes, quando o investigado já virou réu.
O imbróglio está mostrando o profundo desprezo do governo pelo Ministério da Transparência, sucessor da Controladoria- Geral da União, que aumentou a fiscalização sobre os gastos públicos, embora tenha sido incapaz de detectar as falcatruas que sangraram a Petrobras.
Na Transparência, Serraglio seria o ministro errado no lugar errado. Antes que desse a resposta, os servidores fizeram protesto contra ele. Não queriam ter como chefe um homem citado na Operação Carne Fraca e que estava sendo indicado para o cargo para garantir o foro privilegiado ao homem da mala. Por ser um ministério que não rende dividendos políticos e eleitorais, o PMDB não quer indicar o titular. Prefere ficar com o da Cultura, vago desde que Roberto Freire (PPS) pediu demissão, incomodado com a descoberta das relações promíscuas entre Temer e os donos da JBS.
Como se tudo o que está enfrentando fosse pouco, Temer ainda sofreu uma derrota política: o senador Renan Calheiros, que pediu sua renúncia publicamente, foi reeleito líder do PMDB no Senado. Como Temer queria seu afastamento, o recado é claro: na queda de braço, Renan levou a melhor.