Ao presidente da República não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. O mesmo vale para a responsabilidade. Ontem, em discurso no lançamento do Plano Safra Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto, Lula afirmou que responsabilidade fiscal não é palavra, "é compromisso do governo desde 2003" e que "a manterá à risca". Ora, não basta ser responsável, como o presidente apregoa, é preciso parecer como tal.
Ao que parece, finalmente alguém — e esse homem foi o ministro Fernando Haddad — teve coragem de dizer ao chefe que suas palavras tem impacto no mercado. Lula já deveria saber disso. Mas, como se sabe, não desceu do palanque desde o dia em que foi eleito, em 2022. À portas abertas, continua dizendo o que lhe vem à mente, esquecendo-se de que, com a faixa presidencial no peito, cada frase faz mexer os ponteiros das relações externas, do dólar e da inflação.
Os impactos das críticas à taxa de juro e à atuação de seu malvado favorito, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foram de alguma forma contidos por ações práticas de seu governo, no encaminhamento de necessárias reformas tributária e previdência. Mas, principalmente, tendo Haddad na figura de bombeiro.
Nos últimos dias, no entanto, a verborragia presidencial fez a cotação da moeda americana escalar diante da incerteza do mercado com a trajetória fiscal. Esse movimento pode descambar para a economia real, encarecendo produtos e levando o BC a aumentar a taxa básica de juro para conter a inflação.
Pelo bem e pelo mal, o país sairia ganhando se o presidente adotasse maior discrição — ao menos até as próximas semanas. Em outras palavras, não apenas sendo responsável em termos fiscais. Mas também parecendo como tal.