Com talento, uma dose de idealismo e um comovente apoio dos vizinhos, a psicóloga Cláudia Coelho, 46 anos, transformou uma escadaria abandonada na Zona Leste em um dos recantos mais encantadores da Capital. A íngreme travessia da Rua Professor Antônio Peyrouton Louzada – que liga a parte baixa à parte alta do bairro Jardim Carvalho – não é mais rota de fuga para assaltantes nem ponto de encontro para usuários de drogas. É, agora, um orgulho para quem mora ali e um exemplo para quem não mora.
– Sou apaixonada por Porto Alegre, mas me dói o estado de abandono em que ela está. Revitalizar esse espaço foi minha maneira de resistir, foi minha microrrevolução. Quero ajudar a elevar a autoestima da cidade – afirma Cláudia, que teve a ideia da restauração em 2015, quando recém havia concluído um curso de mosaico.
Ela guardava em casa uma pilha de azulejos quebrados que lhe haviam sido doados por uma loja de construção. Cogitava as paredes da própria casa como destino para o material, mas um dia acordou com aquela canção infantil na cabeça: "Se essa rua/ Se essa rua fosse minha/ Eu mandava/ Eu mandava ladrilhar/ Com pedrinhas /Com pedrinhas de brilhante/ Para o meu /Para o meu amor passar".
Durante um ano e meio, Cláudia e um grupo de vizinhas se reuniram para montar os mosaicos, que mais tarde seriam fixados nos 88 degraus – para se ter uma ideia, a escadaria da Igreja das Dores tem 63 degraus. Só que antes de receber os ladrilhos a travessia precisava de uma reforma: estava toda quebrada e cheia de limo. Cláudia então bolou uma campanha para juntar R$ 4 mil.
– Dividi o valor da obra pelo número de degraus e comecei a vender "degraus simbólicos". Cada degrau custava R$ 50. O comprador ganhava um azulejo com seu nome, que seria colocado em uma parede da escadaria no dia da inauguração.
Reformada e colorida, a nova escadaria foi inaugurada em dezembro, em um evento com 200 pessoas. Cláudia inicia agora uma nova campanha, para construir um palco em formato de violão ao pé da escada: ela vende canecas com a imagem dos degraus para angariar fundos. A ideia é transformar a escadaria em ponto turístico e espaço cultural.
– Queremos que seja um local convidativo para eventos que a cidade tenha interesse em fazer. Porto Alegre precisa disso – diz ela.
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