São diversos os estudos a alertar que as mudanças climáticas favorecem a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de arboviroses como a dengue, a zika e a chikungunya. O Rio Grande do Sul, atingido em cheio pelos efeitos do aquecimento global com ondas de calor, estiagens e enchentes, também sente os efeitos da multiplicação do inseto. Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES), 474 dos 497 municípios gaúchos estão infestados pelo vetor. Dez anos atrás, eram 173. Na quinta-feira, a prefeitura de Porto Alegre decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue. O Estado também teve, no início do mês, a confirmação do primeiro óbito por chikungunya.
O combate ao Aedes aegypti deve passar a ser incorporado como um hábito pelos gaúchos
A seriedade da situação exige que o poder público e os cidadãos, em colaboração mútua, ampliem os esforços e os cuidados para combater a reprodução do inseto. O engajamento da sociedade é basilar pelo fato de que grande parte dos criadouros ocorre em residências, em recipientes com água parada. Também preocupa a baixa procura pelo imunizante oferecido na rede pública, por enquanto em 67 municípios do Estado, para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Em fevereiro, informava-se que menos da metade das doses recebidas em abril do ano passado haviam sido aplicadas.
O Estado teve, em 2024, recordes na dengue, com 208 mil pessoas com contaminação confirmada e 281 mortes. Os números são menores em 2025, pelas características sazonais da doença, mas os especialistas advertem para o risco de adoecimentos mais graves, notadamente em 2026. Com muitos casos no ano passado, mais pessoas desenvolveram imunidade momentânea. Mas o segundo episódio de dengue em um mesmo indivíduo tem o potencial de ser mais grave. Ademais, Porto Alegre, por exemplo, registra agora a ocorrência de três dos quatro sorotipos da doença. Dois anos atrás, apenas um foi confirmado. É uma situação que amplia os riscos de quadros mais perigosos.
Na Capital, a quantidade de casos é metade da verificada nesta mesma época em 2024. Ainda assim, é acertado decretar emergência, o que permite acelerar trâmites para enfrentar a epidemia e minimizar o impacto na rede de saúde. Não há mais espaço para subestimar a enfermidade e o potencial de reprodução do transmissor. Abril costuma ser o período mais crítico para dengue no Estado. No início mês, o governo estadual também lançou um alerta epidemiológico acerca da circulação do vírus da chikungunya e do aumento de casos. A atenção se volta em especial para Carazinho, com mais de uma centena de infectados e uma morte.
O combate ao Aedes aegypti deve passar a ser incorporado como um hábito pelos gaúchos. Campanhas de comunicação precisam ser recorrentes. Salvo algum contratempo, a partir de 2026 o país deve começar a contar com 60 milhões de doses de vacina nacional de aplicação única contra a dengue, para o público de 2 a 59 anos. O desafio passará a ser uma mobilização para elevar a busca pela imunização. Uma boa notícia recente é a de que uma vacina contra a chikungunya também está a caminho.