Londres acaba de abrir as portas de um novo marco histórico-cultural. A tão aguardada ampliação da Tate Modern, o museu de arte moderna e contemporânea mais popular do mundo, que recebe 5 milhões de visitantes por ano, tinha abertura ao público prevista para sexta.O prédio, com 10 andares, consumiu o equivalente a R$ 1,3 bilhão e foi projetado pelos suíços Jaques Herzog e Pierre de Meuron – os mesmos que reformaram a estação de energia em 2000 para a Tate original, ou a “velha Tate”. A coluna conheceu o espaço no preview para convidados e sócios, na noite de quarta-feira. A direção do museu não organizou festa oficial – o evento de abertura recebeu 3 mil alunos selecionados de escolas públicas inglesas.
O que mudou
A ala nova amplia em 60% a capacidade do museu e está sendo incensada por dois motivos: aumenta o número de artistas mulheres no acervo, tornando mais igualitária a proporção em relação aos homens, e abriga, verdadeiramente, arte internacional. São artistas de 50 países, com grande participação do Leste Europeu, da América Latina, do Oriente Médio e da África.
Lançando esse olhar mais generoso, a abertura da “nova Tate”, justamente a uma semana da votação do referendo que pode tirar a Inglaterra da Comunidade Europeia, tem muito significado. A semana que passou foi de discursos assustadoramente preconceituosos, limitando o referendo ao tema da imigração. Por isso, ver a nova Tate exibindo, em espaço nobre, o que Londres tem de melhor – sua vocação de capital multicultural da Europa – reacende certa esperança.
Brasileiros na Tate
Em seu processo de internacionalização, a Tate dá destaque ao Brasil. Artistas como Cildo Meireles, Helio Oiticica e Lygia Clark já faziam parte do acervo, mas foram realocados no novo prédio. O paulistano Ricardo Basbaum tem uma das obras mais festejadas desta inauguração: Cápsulas. Suas camas-gaiolas estamparam as principais publicações inglesas.
As coisas também mudaram no prédio antigo. Seu acervo foi reorganizado. Agora, em vez de você visitá-lo de forma cronológica, suas escolhas serão por temas.
Arte e convivência
As mudanças reforçaram a ideia de que o museu do futuro é também um lugar para convivência, com áreas para descanso, alimentação, loja e um bar no terraço, aberto até as 23h. Existe ainda a possibilidade de parte do museu ficar aberta até a meia-noite, quando o metrô de Londres estender seu horário de funcionamento. Quem acha que museu é lugar para poucos não pode fazer cara feia: a ampliação prevê que famílias passem o dia curtindo o local.
Se gostei?
A nova Tate é grande, muito grande para o meu gosto. Ainda é preciso acostumar-se a tanta informação. As possibilidades curatoriais com as novas instalações são imensas. Como bem disse o diretor do museu, Nicholas Serota, na abertura:
– Você não constrói museus para o amanhã, você constrói museus para gerações. Isso estará aqui por décadas.
Há algo de muito impactante e, conforme você vai digerindo, vai se tornando libertário e de muito frescor ter um prédio com Picassos, Rothkos e Dalís de um lado e, de outro, artistas de quem você nunca ouviu falar.
Nesta primeira visita, a composição foi instigante. É definitivamente necessária. Empolgou, mas ainda não me pareceu apaixonante.
Como visitar
A nova Tate não pode ser decifrada num só fôlego. Visite o térreo, onde estão as primeiras galerias em museu exclusivas para arte performática. Depois, siga direto (de elevador, de preferência) para o último andar, o 10º, onde se tem uma bela vista 360 graus. Por fim, desvende os andares de galerias. Haverá mostras temporárias a partir de setembro.