Os analistas bolivianos costumam creditar aos escândalos em que é envolvido a derrota do presidente Evo Morales no referendo para lhe garantir a terceira reeleição – a consulta ocorreu no último dia 21. Desde então, a situação tem se agravado. Gabriela Zapata, ex-companheira do presidente boliviano, detida por suposto tráfico de influência e enriquecimento ilícito, usou o gabinete destinado à primeira-dama para fazer negócios, com a ajuda de uma funcionária pública que foi detida na segunda-feira, informou o governo.
Conforme o vice-presidente Álvaro García, Gabriela recebeu o apoio da diretora da Unidade de Gestão Social, Cristina Choque, que trabalha no gabinete tradicionalmente usado pelas mulheres dos presidentes. A partir do gabinete, Gabriela fez contato com empresários supostamente envolvendo obras públicas.
Álvaro García explicou que se investiga como tudo pode ter acontecido sem que o presidente fosse informado.
O gabinete destinado à primeira-dama foi ocupado inicialmente pela irmã de Evo, em 2006, e depois passou a ser utilizado para trabalhos administrativos, já que o presidente é solteiro.
Gabriela, que teve um filho há oito ou nove anos com Evo, foi gerente da empresa chinesa CAMC, que conquistou diversas obras junto ao governo boliviano. Segundo as investigações, ela teria enviado diversas cartas em nome do governo à entidades para conseguir contratos públicos.
– Se Gabriela Zapata operava a partir do gabinete da Presidência, é preciso investigar o ministro Juan Ramón Quintana (braço direito de Morales) – disse o deputado opositor Oscar Ortiz no Twitter.
Outros dois funcionários vinculados a Quintana foram detidos por envolvimento com Gabriela, acusada formalmente dos crimes de legitimação de ganhos ilícitos, enriquecimento ilícito e tráfico de influência, na qualidade de gerente da empresa chinesa que se beneficiou de contratos milionários com o Estado. Gabriela permanece detida à espera de que um juiz instrua sua prisão formal.
Até surgirem as informações sobre o envolvimento emocional de Evo, ele tinha a vitória no referendo como iminente. Depois disso, ocorreu a virada.
Presidente quer ver filho, de nome Ernesto Fidel
Na segunda-feira, o presidente da Bolívia Evo Morales, pediu aos familiares de sua ex-companheira Gabriela Zapata, detida por tráfico de influência e enriquecimento ilícito, que permitam a ele conhecer o filho que até então ele acreditava ter morrido.
–Evidentemente, houve uma divergência sobre o falecimento do bebê. Eu acreditei nas palavras e informações da mãe de meu filho, mas não acho que tenha dito falsamente que o bebê morreu – disse Evo.
– Peço à família de Gabriela Zapata que o tragam, pois estou esperando, quero conhecê-lo, se me permitirem. Tenho direito de vê-lo, conhecê-lo e cuidar dele. Se o menino não aparecer, tenho a obrigação de ir até as instituições, com o juizado de menores, para que este fato seja investigado.
Uma tia de Gabriela revelou na semana passada que o menor não morreu e que está com oito ou nove anos.
– Sei que esse menino não morreu, nasceu, e o tive nos braços – afirmou Pilar Guzmán, tia de Gabriela Zapata, à rede de TV PAT.
No começo do mês, o jornalista Carlos Valverde revelou que, há 10 anos, Gabriela teve um relacionamento com Morales, com quem teve um filho.
Evo reconheceu que Gabriela foi sua companheira e que teve com ela um filho, que teria morrido. Disse que, em seguida, os dois encerraram o relacionamento, e que desconhecia o paradeiro de Gabriela.
– Não sei por que disseram isso (que morreu), não sei os motivos que os levaram a mentir – disse Pilar, assinalando que não se pronunciou antes porque aguardava a autorização da sobrinha.
Conforme a tia da ex-companheira de Morales, "o menino se chama Ernesto Fidel, é filho do senhor Evo Morales, está aqui e tem entre oito e nove anos."
A oposição boliviana acusa Evo de favorecer Gabriela e assegura que a relação durou por pelo menos até o ano passado.
Tanto a relação quanto nascimento do menino eram fatos desconhecidos dos bolivianos.
O próprio Morales se queixou nos últimos dias que esse caso foi utilizado pela oposição para manchar sua imagem durante a campanha para o referendo, em que os bolivianos rejeitaram uma reforma constitucional que teria permitido a ele disputar um quarto mandato (2020-2025).
Ele chegou a pedir que a Controladoria Geral e o Congresso investigassem as atividades da companhia chinesa e afirmou que não protegeria nem encobrira ninguém.
Para alguns analistas, com a prisão de sua ex-companheira, Evo busca limpar sua imagem.
Uma comissão bicameral do Congresso investiga os contratos da empresa chinesa CAMC e os opositores pretendem convocar Morales e Zapata a depor.