Puxa, lendo a excelente biografia de Stefan Zweig deparei com uma informação que não pode passar despercebida por um brasileiro judeu, como eu. Mais: é um episódio de alto simbolismo, que emociona.
O grande escritor austríaco, que anos depois viria a definir o Brasil como "país do futuro", teve a primeira oportunidade da vida proporcionada por Theodor Herzl, o idealizador do sionismo moderno.
Zweig dava seus primeiros passos como poeta, aos 19 anos, mas apresentou uma prosa para Herzl, que era jornalista e acabou liderando a busca judaica por um lar nacional na terra de origem dos judeus.
Para surpresa de Zweig, Herzl aceitou seu trabalho e o elogiou.
Publicou-o pela primeira vez, no Neue Freie Presse. Era a glória!
Herzl era referência inconteste entre a intelectualidade vienense.
Quando elogiava um texto, a obra passava a ter o selo de qualidade garantido.
Os dois se tornaram grandes amigos.
Herzl era correspondente em Paris quando ocorreu o Caso Dreyfus - a acusação falsa contra um oficial judeu na França, que foi a gota d´água para os judeus verem a busca do velho lar como justíssima meta.
Zweig, amigo de gente como Sigmund Freud e considerado um dos maiores escritores europeus da época, teve de deixar sua amada Áustria, fugindo do nazismo. Veio para o Brasil, onde, desiludido, matou-se tempos mais tarde, decepcionado com o totalitarismo que tomavam conta da sua Europa.
Repetindo: o encontro e a amizade entre o idealizador do sionismo moderno e o autor do bordão "Brasil, país do futuro", dois judeus, são de um simbolismo impressionante. Parece um filme improvável.
Herzl, retratado como um homem do seu tempo, vienense típico, apegado a suas raízes judaicas. Sensibilizava-se com a perseguição renitente a que judeus como ele eram submetidos - anos mais tarde, o Holocausto lhe daria razão.
Certamente, ele estaria agora na linha de frente da busca por dois Estados, o judeu e o palestino, convivendo lado a lado, com paz e segurança - aliás, como deveria ser desde sempre. Até existe um nome para isso: neossionismo. Ontem, hoje e sempre, uma questão de justiça para dois povos com suas sofridas histórias e seu sagrado berço.