Mauricio Macri promoveu uma semana em que a Argentina foi virada do avesso. O presidente argentino tomou posse no dia 10. Desde então, foram muitas as mudanças. Aqui, uma lista:
1) Já no dia seguinte à posse, ele se reuniu com candidatos que o enfrentaram nas eleições. Tenta criar um clima de entendimento nacional. Chegou a oferecer a embaixada em Roma para o rival no segundo turno, Daniel Scioli, de quem é grande amigo. Ambos são descendentes de italianos. As mulheres são amigas. Pensam parecido. Têm origens de famílias ligadas ao setor empresarial. Sorriram para as fotos, como antigos parceiros que são.
2) Voltando no tempo, dias antes de assumir, Macri se reuniu com a presidente brasileira, Dilma Rousseff, com quem mantém mais coincidências do que divergências, apesar de em tese ser de campo oposto. Nas conversas, ficou bem claro que os dois países terão relações mais próximas, até porque a Argentina está derrubando as barreiras comerciais. Macri deixou boa impressão no Planalto e foi aplaudidíssimo na Fiesp.
3) Além de acertar o passo com o Brasil, Macri tinha uma segunda prioridade, conforme haviam dito parlamentares ligados a ele para Zero Hora na véspera da votação de segundo turno: ele queria se acertar com os credores especulativos internacionais. O objetivo é atrair investimentos. Os cofres públicos já se ressentiam da escassez de dólares. Era, na visão de Macri, criar o ambiente para a entrada de moeda forte.
4) Foram tomadas uma série de medidas impactantes na área econômica. Liberou a compra de dólares desvalorizou o peso em relação ao dólar, rompeu barreiras para as importações (medida de forte impacto para o Brasil), facilitou a vida para os exportadores etc. Enfim, tomou diversas decisões que derrubam pontos essenciais da política econômica kirchnerista, marcando profundas diferenças com a antecessora.
5) Rompeu o acordo com o Irã. Era uma das bandeiras de Cristina Kirchner, supostamente para facilitar as investigações sobre o atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia). O procurador Alberto Nisman acusava Cristina de ter celebrado esse acordo para livrar a cara de autoridades iranianas implicada no atentado. Nisman morreu de forma misteriosa horas antes de depor no Congresso.
6) Pôs como ministra da Segurança a deputada Patricia Bullrich, que, na véspera da eleição, em um churrasco, disse para Zero Hora que seria reaberta a investigação do Caso Nisman, a misteriosa morte do procurador horas antes de se pronunciar acusando acobertamento de Cristina Kirchner a supostos terroristas iranianos no atentado à Amia. Patricia assumiu, e as investigações já foram retomadas, tanto quanto à Amia, quanto quanto a Nisman.
7) Perto de completar um ano, a misteriosa morte de Nisman vai trocar de comando na investigação. A juíza Fabiana Palmaghini, responsável pelo caso, afastou a promotora Viviana Fein e assumiu a investigação. Na Argentina, diferentemente do Brasil, o juiz tem atribuição de orientar os procedimentos de investigação. Fein recebera muitas críticas da família de Nisman. Não ter esmiuçara detalhes ainda obscuros do caso.
8) No último sábado, protagonizou uma churrascada na qual estiveram todos os 24 governadores. Trata-se de uma medida renovadora no que se refere ao diálogo nacional. Políticos kirchneristas começam a rever conceitos e se aproximam do novo presidente, até porque a líder trata do próprio futuro na Patagônia. Politicamente, são órfãos, e Macri já havia decidido antes da posse: essa seria sua principal estratégica para ter sustentação parlamentar.
9) Macri designou por decreto dois juízes da Corte Suprema. Alegou que as cadeiras estavam vagas e que seria importante anunciar os nomes. A medida repercutiu mal, e ele foi elogiado pelos críticos pontuais ao voltar atrás, mostrando uma atitude que é o contrário do que os detratores da antecessora falavam dela. Qual atitude? Teve humildade para ouvir os críticos e acatou as ponderações, reconhecendo que agira de forma precipitada.
10) Chegou a dizer que dava como certo que pediria, na cúpula do Mercosul desta segunda, a suspensão da Venezuela. Depois de conversar com Dilma, afinou o discurso com a colega brasileira e disse ter se convendido de que o presidente Nicolás Maduro havia aceito a acachapante vitória da oposição, que ficou com 112 das 167 cadeiras do parlamento unicameral. De lá para cá, Maduro chegou a instalar um parlamento paralelo...
11) Não parte diretamente dele, mas ocorre sob seu governo, e ele nada tem a opor. A Justiça anulou decisão do governo de Cristina que havia ordenado o desmembramento forçado do Grupo Clarín. A adequação compulsória à Lei de Mídia foi imposta no fim de 2014, mas estava paralisada por uma decisão liminar que expiraria em janeiro. O Clarín havia apresentado um programa voluntário de separação em maio de 2014.
12) Definiu o novo embaixador argentino em Brasília, homem de perfil vinculado à iniciativa privada. Secretário de Indústria e Mineração no governo de Carlos Menem (1989-99), Carlos Magariños, 53 anos, foi adido comercial na embaixada argentina em Washington, entre 1993 e 1997. É dono de duas consultorias que prestam serviços a empresas com negócios no Exterior: a Prospectiva 2020 e a Global Business Development Network.
13) Restituiu no cargo uma técnica do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) afastada na gestão anterior por seu desacordo com mudanças metodológicas que, segundo denunciou na época, eram usadas para a manipular o índice de inflação. Graciela Bevacqua, ex-diretora do Índice de Preços ao Consumidor foi afastada em 2007 com vários diretores de ampla trajetória no instituto estatístico, cujas medições caíram em descrédito.
14) Nomeou Jorge Todesca como novo diretor do Indec. "Viemos reorganizar o Instituto", disse Todesca ao entrar no instituto junto a Bevacqua para reunião com os funcionários que deixam o órgão. Todesca é um economista que levou o ex-secretário de Comércio de Kirchner, Guillermo Moreno, à Justiça em caso por abuso de autoridade depois de ser denunciado por divulgar estatísticas de inflação contrárias aos números oficiais.
15) Retomou a prática de entrevistas coletivas na residência oficial de Olivos. Prometeu que o governo divulgará todos os dados oficiais e tem conversado frequentemente com a imprensa, diferentemente do que fazia a antecessora. Os jornalistas argentinos dizem que está fluindo mais o diálogo com as autoridades nacionais. Parece haver um comportamento distinto em relação aos meios de comunicação.
Ufa!
Quer mais? Vejamos as cenas dos próximos capítulos.
Dará certo? Seja qual for o presidente, é o que se deseja.