Os comitês de campanha de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) só respiraram aliviados no domingo (6) quando a apuração alcançou mais de 95% das urnas. A eleição mais apertada da história da cidade de São Paulo demonstrou que apenas o apoio de Lula ou de Bolsonaro não foi suficiente para garantir vitória.
Pablo Marçal (PRTB) mostrou a relevância crescente das mídias digitais e se firmou como um nome forte na política, se valendo do poder do "contra tudo o que está aí".
Sem tempo de rádio e TV, sem apoio relevante de vereadores e sem envolvimento direto com as comunidades de São Paulo, Marçal demostrou que a população pode ser influenciada exclusivamente pela tela do celular.
A campanha guarda elementos muito semelhantes à trajetória de Bolsonaro em 2018. Mostra ainda que o discurso pode ser mais importante do que a voz de quem o reproduz.
O fato de milhares de paulistanos ignorarem os pedidos do ex-presidente e do governador Tarcísio de Freitas para o voto em Nunes mostra que boa parcela do eleitorado só aceita apoiar candidatos que prometam agir contra o "sistema", ou seja, que sejam capazes de operar o milagre de governarem sozinhos.
É preciso destacar, contudo, que Bolsonaro deu um apoio envergonhado à candidatura de Nunes. Gravou poucos vídeos e não esteve presencialmente na campanha. Tarcísio não se intimidou ao receber ataques de seguidores de Marçal e abraçou a candidatura do prefeito.
A lógica do poder limitado também é válida para Lula. Afinal, o petista venceu Bolsonaro na capital paulista em 2022, e grande parte dos votos não foi transferida para o candidato do PSOL.
Marçal fez piada de temas importantes da cidade, publicou uma avalanche de informações falsas e estimulou o clima beligerante que marcou o primeiro turno. A postura gerou alto índice de rejeição, mas também despertou a idolatria de milhares de eleitores.
Além de mostrar ao Brasil que Lula e Bolsonaro não possuem poderes absolutos, Marçal é a prova de que boa parte da população continuará sua busca por vingadores em capa de super-herói.