Uma proposta de emenda constitucional (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) que busca o fim da chamada escala 6 x 1 - seis dias de trabalho por um de descanso na semana - incendiou as redes sociais. A intenção é substituir o regime atual de 44 horas semanais por 36, o que daria quatro dias de nove horas ou cinco com 7,2 horas.
É um tema que vai e volta com certa frequência. Em julho de 2022, a jornalista que assina esta coluna participou de um podcast da Escola de Negócios da PUCRS sobre o tema (ouça aqui), ainda no embalo da discussão sobre modelos híbridos de trabalho provocada pela pandemia.
É uma ideia difícil de resistir. Do ponto de vista do desejo, a coluna é a favor. Do ponto de vista da aplicação prática no Brasil, é de dificílima implantação. Como observou no podcast o professor Ely Mattos, a produtividade média do brasileiro equivale a 25% da do americano (leia mais aqui). Para traduzir, são necessários quatro brasileiros para fazer o que um americano faz.
A 4 Day Week Brazil, organização sem fins lucrativos que faz pesquisas sobre trabalho fez um estudo com apoio da Fundação Getulio Vargas com 21 empresas experimentando a semana de quatro dias de trabalho, sem redução de salários. Para não falar da satisfação dos funcionários, que obviamente aumentou, 61,5% das companhias perceberam avanços na execução de projetos e 58,5% perceberam aumento na criatividade.
Mas isso funciona para todos? É preciso observar que o americano médio não é mais produtivo do que o brasileiro médio por ser... americano. No mais respeitado estudo internacional, o Pisa, feito de três em três anos, os Estados Unidos estão longe dos primeiros lugares, em 34º posto. Mas o Brasil está em 65º.
Claro, nem toda falta de produtividade decorre do trabalhador. Outro estudo recente mostrou que a idade média dos equipamentos de produção no Brasil é de 17 anos. Então, as ferramentas também deixam a desejar. Se em nichos a redução da carga horária pode funcionar, para que valha para todos os brasileiros é essencial avançar na qualidade da educação. Sem boa formação, não há ganho de produtividade possível.