O primeiro crescimento da economia depois de dois anos – ou oito trimestres – de encolhimento ou queda livre abriu a discussão: a recessão acabou? Tecnicamente, sim. Na abordagem mais simples, basta um desempenho positivo – como a alta de 1% de janeiro a março na comparação com o período de outubro a dezembro de 2016 para interromper o período de baixa. Mas economistas ponderam que essa seria uma "regra de bolso", no sentido de ser de fácil compreensão, enquanto a realidade é um pouco mais complexa.
O governo, necessitado de reforço positivo, clamou "fim da recessão", mas não foi muito levado a sério. Se fosse, a bolsa não teria fechado com queda de 0,67%. O que pesou, nos números do IBGE, foi a queda no consumo das famílias. Isso provocou uma onda de revisão para baixo da projeção para o fechamento do ano.
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O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), por exemplo, reduziu de 0,4% para 0,2%. Pesquisador da instituição, Paulo Picchetti também é um dos sete integrantes do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), que define início e fim de processos recessivos.
Picchetti explica que o Codace segue metodologia internacional para determinar ciclos. Por essas regras, a recessão no Brasil começou no segundo trimestre de 2014, sem a característica mais usual de dois trimestres de queda. Da mesma forma, para marcar o final, seria preciso caracterizar retomada generalizada entre os setores.
– É um número positivo, mas só o dado do primeiro trimestre não é evidência suficiente de que deixamos a recessão para trás. Ainda não há elementos robustos para caracterizar saída da recessão – diz, ressaltando falar em nome pessoal, não do Codace.
Ainda antes da delação da JBS, Picchetti ponderava que havia risco de um segundo trimestre negativo. E agora?
– A estimativa para o segundo trimestre ainda é de resultado negativo. A delação introduziu um viés de baixa.
A partir de abril, a safra agrícola incide menos. Outros componentes apresentam queda ou estagnação, diz:
– Sai a parte boa e não entra nada igualmente bom para alcançar um número positivo. No fundo, esse resultado torna claro que teremos trajetória suave e volátil de retomada. Não há sinal evidente que deixamos a recessão para trás.