Agora é oficial: o Banco Central cravou em 3,6% a previsão da queda no Produto Interno Bruto (PIB) em 2015. Está quase em linha com a média do mercado financeiro, de 3,7%. Caso se confirme – o dado só será divulgado pelo IBGE em 7 de março –, será a maior recessão em percentual do PIB desde 1990, quando a queda chegou a 4,35%. E, pela primeira vez, o país está prestes a ver dois anos seguidos de encolhimento na riqueza nacional. A projeção do BC para 2016 é de um novo recuo de 1,9%. Neste caso, o BC ainda está distante dos analistas, que projetam um novo tombo de até 3%.
No mesmo Relatório de Inflação em que projetou a queda histórica, o BC estimou em 10,8% a inflação acumulada pelo IPCA neste ano. Será a primeira vez que o indicador fecha em dois dígitos desde 2003. Mesmo tendo falado em bom “bancocentralês”, o idioma em que se comenta tudo sem se comprometer com nada, o diretor de Política Econômica do BC, Altamir Lopes, deixou a impressão de que um alta no juro básico na reunião de 20 de janeiro não pode ser descartada. Afirmou que serão adotadas “as medidas necessárias” para assegurar o “cumprimento dos objetivos do regime de metas”, ou seja, o BC não está disposto a fazer cópia em 2016 da carta aberta que terá de enviar ao ministro Nelson Barbosa justificando o fato de não ter ficado dentro do teto da meta.
Será um início de 2016 difícil. Na próxima segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff reúne no Planalto a nova equipe econômica para tentar encaminhar um pacote de medidas para dar rumo ao país. É um senso de urgência mais do que bem-vindo. Se há algo consensual no Brasil é o de que o país precisa de um rumo. Às vésperas do Natal, várias entidades empresariais apresentaram sugestões de medidas para abandonar a agenda da crise. Não é por acaso que o documento do PMDB chamado Uma Ponte para o Futuro fez sucesso no meio empresarial. Alinhavava propostas e dava um norte.
Definir o caminho não significa que será fácil chegar ao destino: na quarta-feira, dia seguinte ao anúncio de que o governo estuda novas medidas para retardar a aposentadoria e analisaria a sugestão da CUT para permitir negociação direta entre empresas e trabalhadores, duas outras centrais sindicais reagiram com dureza. A Força Sindical e a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) avisaram que não pretendem dar apoio a medida desse tipo. A virada de ano exige cuidado. Se o último trimestre de 2015, período usualmente movimentado, mostrou pouca atividade, o primeiro de 2016 pode rodar ainda mais lentamente. Se na macroeconomia a sensação é desoladora, basta olhar para o microcosmo das empresas (confira neste link a partir da manhã de quinta-feira) para perceber que não há apenas o abismo à nossa frente.