Até outubro, quem trafega no universo das fusões e aquisições relatava que não faltavam ofertas de compra e venda. Difícil era chegar ao preço, porque quem comprava suspeitava que o valor ainda poderia cair e quem vendia sonhava com a valorização. O anúncio da venda do negócio de cosméticos da Hypermarcas para a Coty, em pleno Dia de Finados, pode ter assinalado o fim do luto na economia. As perdas nunca serão recuperadas, mas parou o choro, voltou a ação.
Nesta terça-feira, veio outro indício de que as negociações começam a fluir. Foi a vez de a Alpargatas anunciar a venda de suas marcas Topper e Rainha para o paranaense Carlos Wizard Martins, por meio do fundo de investimentos Sforza. No final de 2013, Martins havia vendido seu grupo Multi – de Yázigi, Wizard, Microlins e outros. Estava capitalizado.
Os valores são incomparáveis: a venda da Hypermarcas foi de quase R$ 4 bilhões, e a das marcas da Alpargatas, de R$ 48,7 milhões – as fábricas não estão incluídas. Mas a combinação dos anúncios com a reação positiva do mercado parece indicar que alguém encontrou o tão prospectado fundo do poço. Que, é bom que se lembre, não é o ponto em que a situação começa a melhorar, apenas o que para de piorar.
A relativa estabilidade política das últimas semanas parece ter ajudado, assim como as declarações de Abílio Diniz em Nova York, sobre o fato de o Brasil ''estar barato'', tanto pelo efeito cambial quanto pela depreciação provocada pela própria crise. Ainda é uma tentativa de reação, que precisará de boa vontade e resiliência diante de desafios presentes e futuros para o país. Mas é uma esperança. Vender barato não é sonho de ninguém. Só é melhor do que a inação.