Ainda existe cigarro de chocolate? Quando eu era criança, não lembro mais em que século, compravam-se cigarros iguais aos de verdade, em maços, com chocolate dentro em vez de fumo. Eles também serviam para a gente brincar de adulto. Antes de comê-los, "fumávamos" os cigarros, gesticulando com eles como gente grande, dizendo coisas pseudoimportantes e tragando e expelindo fumaça imaginária. Nada era mais invejável nos adultos do que a liberdade para fumar e sonhávamos com o dia em que poderíamos assumir todas as poses de fumantes, mas fumando de verdade.
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Tinha um ritual de fumantes que me fascinava. O homem tirava uma cigarreira – lembra cigarreira? – do bolso de dentro do paletó, abria a cigarreira, escolhia um dos cigarros enfileirados, fechava a cigarreira com um sofisticado clic, depois batia com a ponta do cigarro no tampo da cigarreira, antes de guardá-la, colocar a ponta compactada do cigarro nos lábios e buscar o isqueiro em outro bolso do paletó. No dia em que eu pudesse fazer aquele pequeno teatro com naturalidade, eu seria um homem e, mais do que isso, um homem autossuficiente e elegante, um homem de dar inveja.
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Outro gesto muito adulto era, segurando o cigarro entre o dedo indicador e o médio, usar o anular e o polegar para catar um fragmento de fumo na língua. Este eu imitava depois de cada tragada nos meus cigarros de chocolate.
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Um dia, decidi que não ia esperar crescer para ficar adulto. Roubei um cigarro da minha mãe, peguei fósforos e fui para o fundo do quintal. Bati com a ponta do cigarro na caixa de fósforos. Acendi o cigarro. Traguei. Me sentia um ator de cinema (naquele tempo se fumava muito nos filmes), um Tyrone Power depois de acender o da moça, um Humphrey Bogart depois da briga. Mas a pose não durou muito. Foi interrompida por um acesso de tosse. Era horrível, encher a boca de fumaça daquele jeito. Nunca mais botei um cigarro na boca. Nem de chocolate.
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Mas sei não. Às vezes, penso que faltou uma cigarreira na minha vida.