A arquibancada da noite fria de 16 de agosto de 2006 foi o meu lugar nesse prélio revisto agora há pouco na RBS TV. O fato você já sabe: a primeira Libertadores da história colorada. Lembro do casal de amigos colorados que foram comigo ao Beira-Rio — abraços, Gabriel e Danielle, hoje moradores da Nova Zelândia. Lembro das lágrimas, ajoelhado, abraçando outros torcedores também chorões depois do fim em 2 a 2.
Mas o problema é tentar enxergar esse Inter e São Paulo como uma partida de futebol. Essa é apenas a casca. Para os milhões de colorados espalhados pelo planeta, foi uma epifania de que não vivíamos para sofrer. Que era possível, nesse esporte filho da mãe, também ser feliz. Foram anos amargurando resultados malditos, eliminações fiasquentas e um rival que emendava duas décadas de sucessos. "Os humilhados foram exaltados".
Na goleira do gol de Fernandão era onde estava. Foi por ali que Rafael Sobis passou com o bandeirão na festa da torcida campeã. Futebol serve para arrebentar com sinas, destruir com marasmos e tocar flauta naqueles sacanas que outrora estavam por cima da carne seca. Era a nossa vez. Aguentem!
Fernandão não apenas levantou uma taça, a mais linda delas. O capitão colorado, quando a direcionou para o céu nublado da noite de agosto de 2006, meio que avisou aos Deuses do esporte que um gigante havia acordado, saído da hibernação. E as estrelas que naquela noite estavam entre nuvens foram testemunhas que aquele povo de vermelho merecia cada sorriso que Tinga abriu no segundo tento.
Hoje, o capitão virou uma estrela. Hoje, relembramos aquela felicidade. Hoje, estamos só pelo confronto contra um dos melhores Barcelonas de todos os tempos. Dali uns meses — ou 14 dias na RBS TV.
Naquela noite, estraçalhamos com o complexo de vira-latas. Naquela noite, não dormimos. Tínhamos o que festejar. E não era apenas uma Libertadores. Era a nossa libertação.