O novo capítulo no jogo do presidente de empurrar responsabilidades pela piora da pandemia provocou uma reação nada amigável.
De um lado, Jair Bolsonaro, que insiste em vociferar contra as medidas de isolamento e omite falhas da gestão federal. De outro, governadores que enfrentam o colapso na estrutura de saúde, com falta de vagas em UTIs e a ausência de doses suficientes da vacina para imunizar a população.
Nos bastidores, o clima esquentou em especial a partir da exposição de cifras sobre os repasses federais. Os governadores classificaram o movimento de Bolsonaro como inadmissível e reagiram, em nota, afirmando que o presidente promove "informação distorcida", "interpretações equivocadas" e busca, com isso, "atacar governos locais".
Conforme a coluna apurou, os gestores tentam organizar um encontro formal para discutir ações nesta terça-feira (2). O movimento conta com governadores de diferentes partidos, entre eles Ronaldo Caiado (DEM), Flávio Dino (PCdoB), Camilo Santana (PT) e Eduardo Leite (PSDB). O sentimento é de indignação com a postura de Bolsonaro.
Nesta segunda-feira (1º), em nota pública, governadores reagiram à postura do chefe da Nação. Em recado claro a Bolsonaro, dezesseis gestores saíram da defensiva e afirmaram: "em meio a uma pandemia de proporção talvez inédita na história, agravada por uma contundente crise econômica e social, o Governo Federal parece priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa essencial aos interesses da população".
Veja o documento completo:
Reação
A coisa esquentou de vez depois que, nos últimos dias, a retórica bolsonarista elegeu os mais novos alvos de sua artilharia: governadores das 27 unidades da federação. Em tom orquestrado, Bolsonaro e seus auxiliares passaram a publicizar cifras sobre repasses federais, isso sem distinguir obrigações constitucionais da verba da pandemia.
Após o anúncio de medidas mais restritivas nos Estados, o presidente chegou a ameaçar, dizendo que governador que "fechasse seu Estado" bancaria com seus recursos o auxílio emergencial.
No domingo, um dos ministros que encampou o discurso foi Fábio Faria, ex-dilmista que agora lidera a pasta das Comunicações.
O discurso, como se pode ver, inflama o povo a bradar contra os governadores. Até então, o alvo principal dos discursos vinha sendo João Doria, desafeto público do presidente que busca a reeleição em 2022 (e vê no tucano um potencial adversário).
A fala de Bolsonaro e de seus auxiliares foi pessimamente recebida pelos chefes de Executivos estaduais. No fim de semana, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, foi às redes para enfrentar o discurso propagado pela ala verde-amarela.
Leite, que até então não partira para um enfrentamento direto com o Planalto, subiu o tom e provocou: "Cadê os nossos outros 30 bi que enviamos", ao sugerir que Bolsonaro induz ao erro quanto aos repasses federais.