Existem poucas ações tão impactantes como a desencadeada pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (6), que resultou na prisão de cinco servidores da Receita Federal e de um PM. São funcionários públicos que juraram servir e proteger a sociedade.
Até por isso, a corrupção praticada por eles tem nome diferente (peculato) e, via de regra, pena agravada. A investigação partiu da Receita, cortando na própria carne.
Os servidores surpreendidos agora são suspeitos de envolvimento numa rede de contrabando e receptação centralizada em Santa Maria, mas com ramificações em outras cidades gaúchas e de Santa Catarina.
Ao todo, 10 pessoas foram presas. Os desvios podem chegar a R$ 150 milhões, dos quais R$ 27 milhões já foram contabilizados.
A ação atual, denominada Entreposto, descobriu que os agentes da Receita desviavam mercadorias apreendidas e as revendiam a receptadores. Pois duas outras operações desencadeadas pela PF nos últimos 25 anos também miravam a simbiose entre funcionários públicos e contrabandistas.
A primeira delas, em 2000, chamou-se Alfa-Índia e resultou na prisão de 13 delegados da PF, policiais, servidores da Receita Federal e da Receita Estadual. Eles facilitavam o ingresso no Brasil, via Aceguá e Chuí, sem pagamento de impostos, de mercadorias recebidas de navio no porto de Montevidéu (Uruguai), vindas da Ásia.
Eram pneus, equipamentos de informática, perfumes e tecidos, introduzidos no Brasil em contêineres. Tudo previamente combinado com agentes federais nas aduanas. A ação resultou em condenações criminais e na perda de cargo dos servidores envolvidos.
A outra é a operação Macunaíma, desencadeada em 2006 e que resultou na prisão de sete policiais rodoviários federais e de um policial rodoviário estadual. Conforme a sentença e a sentença, os agentes lotados nos postos localizados em Tabaí, Lajeado e Montenegro auxiliavam no ingresso de mercadorias estrangeiras, alertando para barreiras ou fiscalização nas estradas.
Deixavam de fiscalizar determinados veículos em trânsito na rodovia e de apreender mercadorias ilegalmente introduzidas no país, em troca de parte dessas mesmas mercadorias ou dinheiro. O serviço era recompensado mediante propina em dinheiro ou receptação de parte da mercadoria, sobretudo aparelhos eletrônicos.