Como evitar que a catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul nas chuvaradas de maio virasse uma mortandade? Esse foi o desafio enfrentado pelas polícias, no entender do delegado Bolívar Llantada, chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Ele palestrou a respeito no segundo dia do 4º Congresso de Operações Policiais — COP Internacional, que está sendo realizado em São Paulo (SP).
As enchentes afetaram 450 municípios e impactaram 2 milhões de pessoas. Llantada detalhou como o gabinete de crise da CORE RS, em conjunto com as forças de segurança pública e defesa, enfrentou um cenário desafiador: 80 mil pessoas em abrigos provisórios, interrupção de serviços essenciais (como energia e abastecimento de água), além de 187 bloqueios em rodovias, que comprometeram a logística de socorro.
— Fiz minha última operação policial em 27 de abril e, desde então, não consegui tirar meu equipamento do carro — relembrou.
Llantada compartilhou o que considera principais aprendizados durante a crise climática, listados em 10 lições cruciais para futuras respostas a desastres:
- Necessidade de ação imediata, independentemente dos recursos disponíveis.
- Importância de atuar com coragem e determinação diante do risco de vida:
— O risco é iminente à atividade da segurança pública e salvamento. Não há espaço para meias medidas. - Organização e distribuição dos recursos por equipe:
— No meu celular entravam mais de 500 pedidos de salvamento por dia. Ora encaminhava para a equipe fluvial, ora para a equipe aérea, ora para os bombeiros. - Enxugamento da cadeia de comando para comunicação direta entre as frentes de trabalho.
- Estabelecimento de um posto de comando em local próximo e seguro, já que muitas unidades e quartéis também foram alagados;
- Organização do trabalho por etapas, iniciando pelo socorro aéreo e fluvial, depois, patrulhas fluviais, escolta de cargas, ajuda humanitária e as patrulhas terrestres:
— Infelizmente, bandidos também tiveram suas casas alagadas, mas estavam se reorganizando para cometer crimes e roubos. Também tivemos que cuidar disso. - Cautela com reações em manada e guerra informacional de notícias sensacionalistas e fake news, evitando pânico.
- Uso da criatividade e busca por alternativas aos recursos convencionais, que estavam comprometidos.
- Proatividade e trabalho ininterrupto.
- Aproveitamento de apoio e de qualquer oportunidade de solidariedade, reforçando os laços de amizade e respeito.
— Nós gaúchos, que em um momento da história tivemos a Revolução Farroupilha, repensamos o fato de termos um dia lutado por separação. Se não fossem os brasileiros, dependeríamos da ajuda humanitária internacional e a dimensão da tragédia teria sido muito maior. O meu reconhecimento ao Brasil e ao apoio prestado a nós — encerrou Llantada, com um agradecimento especial às equipes de operações especiais de outros Estados brasileiros que prestaram apoio durante a crise.
O COP Internacional é o maior evento latino-americano voltado para a atividade policial e termina nesta sexta-feira (18).