
Policiais dos dois lados da fronteira estão realizando de segunda-feira (29) até quinta (1º) o encontro Binacional Uruguai e Brasil sobre Segurança Pública. A troca de experiências (e queixas) acontece em Rivera, cidade uruguaia, gêmea do município gaúcho de Santana do Livramento.
O encontro é realizado no anfiteatro do campus regional noroeste da Universidade do Trabalho do Uruguai. Os policiais, militares e civis dos dois países, se reúnem em grupos de trabalho para debater sobre Narcotráfico, Crime Organizado, Tráfico de Pessoas, Abigeato e Passagens de Fronteira. O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, coronel Vanius Cesar Santarosa, participa da programação, além de representantes da Polícia Civil e Brigada Militar e polícias Nacional e Caminera (Rodoviária) do Uruguai. Entre os que prestigiam o evento está a prefeita de Santana do Livramento, Ana Tarouco (que é delegada da Polícia Civil) e ministros da Defesa e do Interior do Uruguai.
Encontros deste tipo têm ocorrido com mais frequência. Em 2021 a cidade de Uruguaiana (RS) sediou uma capacitação para policiais de todo o país que atuam em fronteiras.
A maior preocupação, dos dois lados da fronteira, é com o avanço das facções criminosas. No Uruguai já é grande o domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC) sobre as rotas de importação de maconha, droga que tem consumo descriminalizado naquele país e, por isso, ganhou uma explosão de consumo. Isso impulsionou as vendas e a rivalidade entre quadrilhas na busca por lucro. Levantamentos do governo uruguaio mostram presença dessa facção, a maior do Brasil, em Chuy (fronteira com a Chuí brasileira), Artigas (fronteira com Quaraí) e Rio Branco (fronteira com a gaúcha Jaguarão), enquanto em Rivera e Livramento há influência de facções gaúchas (como os Bala na Cara e Os Manos).

Longe vai o tempo em que as maiores preocupações policiais na fronteira eram deter o contrabando e o abigeato (roubo de gado). Nos últimos anos o número de homicídios no Uruguai saltou (embora tenha caído em 2021), fruto de disputa entre facções pelo controle do tráfico de drogas e venda de armas.
Alguns temas do encontro desta semana devem servir de matéria-prima para discussões na audiência que a Comissão do Mercosul (da Assembleia Legislativa gaúcha) deve realizar dia 15, com presença de representantes dos órgãos de segurança e Justiça do Brasil e do Uruguai.
— Estamos solicitando uma operação conjunta permanente para combater delitos de fronteira e, também, a instalação de uma Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) em Santana do Livramento. As brigas de facções são uma constante por aqui e atingem os dois países — relata o vereador santanense Luís Eduardo Reis do Amaral, o Duda Amaral, que solicitou o debate à comissão do Mercosul.
Um debate mais do que saudável, necessário.