A apreensão de R$ 412 mil em espécie em um apartamento de Gravataí, na tarde de quarta-feira (1º), mostra que os quadrilheiros resolveram esconder seus lucros de uma forma antiga e eficaz: dinheiro vivo. Sacolas e mais sacolas com reais, dólares e euros têm sido apreendidas por policiais gaúchos.
Nos dois últimos anos, o Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil , encontrou milhões em cédulas. E o que mais chama a atenção é o local onde são armazenadas, ressalta um dos chefes do Denarc, delegado Carlos Wendt. Em outubro de 2019, por exemplo, foram apreendidos cerca de R$ 350 mil em uma mala no quarto de um apartamento. O curioso é que a proprietária do imóvel disse à polícia que não fazia a menor ideia de como aquele dinheiro havia ido parar ali. Ela tinha alugado o local para uma quadrilha, sem saber.
Em abril daquele ano já tinham sido confiscados cerca de R$ 600 mil em uma residência na zona sul de Porto Alegre. Em junho de 2020, o Denarc encontrou R$ 60 mil SOBRE o capô de um carro abandonado no Campo da Tuca, conhecido ponto de tráfico da capital. Veja se é lugar para se deixar dinheiro, leitor…
Wendt ressalta que, ao contrário do passado, os modernos piratas não possuem grandes embarcações e, sim, carros de luxo e mansões. Mas algumas tradições não mudam.
—O tesouro continua sendo guardado nos mais variados esconderijos — ressalta.
E porque cédulas em espécie? Por dois motivos: proporciona liquidez aos bandidos (ninguém recusa dinheiro vivo) e, também, porque transações bancárias deixam rastros. Um fenômeno que também tem ocorrido com frequência no contrabando pelas fronteiras, que inclui o repasse de dólares de um país a outro, escondidos no corpo de viajantes. Uma prática com pelo menos três séculos de tradição e que ainda funciona.