Uma videoconferência convocada pelo Ministério da Defesa tenta acertar hoje os rumos das Forças Armadas no governo Bolsonaro. Os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica devem entregar seus cargos, como é praxe em trocas de ministério como a que ocorreu agora. Só que desta vez é provável que o novo ministro aceite as renúncias.
Muitos generais, almirantes e brigadeiros foram pegos de surpresa e não gostaram da demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, na reforma promovida pelo presidente Jair Bolsonaro segunda-feira (29).
Azevedo e Silva deixou nas entrelinhas da carta de despedida o motivo: “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Quem o conhece, sabe que estava incomodado com ingerências políticas cotidianas em relação aos militares da ativa, que até por regulamento estão proibidos de atividades políticas.
Conhecidos de Azevedo dizem que ele virou alvo de Bolsonaro por dois motivos. Primeiro, por manter no comando do Exército o general gaúcho Edson Pujol, que tem insistido em marcar uma linha de afastamento entre seus comandados e o governo. Segundo, porque Azevedo mantém grandes amizades no Supremo Tribunal Federal (STF), visto hoje pelo bolsonarismo como o maior obstáculo à continuidade do governo.
Antes de ser ministro, Azevedo foi assessor de Dias Toffoli, anos atrás.
No lugar de Azevedo entrou o general Walter Braga Netto, ex-interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro e um dos mais fiéis colaboradores de Bolsonaro.
A tendência é que Braga Netto mantenha os atuais comandantes da Marinha (almirante Ilques Barbosa) e Aeronáutica (brigadeiro Antônio Carlos Bermudez), até porque senão teria em mãos uma crise político-institucional rara, mesmo num país de sobressaltos como o Brasil. Já Pujol deve sair, mesmo com o prestígio que conta no Exército e apesar de ter sido colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar de Agulhas Negras (Aman). Pujol, aliás, desde o início encarou a pandemia como inimiga, tanto que, em cerimônia em 2020 em Porto Alegre, foi o único general a cumprimentar Bolsonaro com o cotovelo (para desagrado do presidente).
Conhecedores de Bolsonaro dizem que, pressionado pela crescente onda de insatisfação no país, ele deseja colaboração mais ostensiva das Forças Armadas para seu projeto político. Uma espécie de espantalho contra o impeachment. Sem meias adesões, mesmo que os militares graduados tenham receio de colar sua imagem à dele.
Cotados para o lugar de Pujol estão, pela ordem de antiguidade, os generais José Luiz Freitas (chefe de Operações Terrestres), Marco Antônio Amaro dos Santos e Décio Schons, todos próximos de ir para a reserva. Um deles seria o escolhido ao natural, caso queiram dar tom de normalidade à eventual substituição de Pujol... mas talvez Bolsonaro queira mesmo romper a tradição de antiguidade, para mostrar que comanda. Aí um dos favoritos para chefiar o Exército é o general Marco Antônio Freire Gomes, atual Comandante do Nordeste.