Ainda é cedo para estourar foguetes, mas a Lei dos Desmanches parece ter surtido efeito, num país em que leis custam a ser levadas a sério pela população. A repressão à venda ilegal de autopeças se tornou rotina no Rio Grande do Sul, após décadas de promessas de ação por parte das autoridades.
A nova lei deu embasamento jurídico às ações policiais e tornou difícil a vida de quem acha que é só picotar o carro roubado e vender.
Não custa lembrar algumas mudanças: as peças à venda, agora, têm de ser numeradas, catalogadas, um avanço num Estado onde carros eram retalhados à luz do dia, em terrenos baldios, como mostrou o Grupo de Investigação da RBS (GDI) na série de reportagens Campo Aberto para o Desmanche, publicada a partir de janeiro de 2017.
Revendas de peças ilegais operavam em prédios legalizados, por toda parte. Após a nova legislação, ficou mais difícil. Basta que uma das novas restrições não esteja sendo cumprida para que o estabelecimento seja fechado. E os donos, passíveis de serem presos.
É claro que parece pouco fechar 109 estabelecimentos em três anos, num universo de 1,5 mil que seriam clandestinos. Parece, mas não é. Cada interdição traz efeito pedagógico. O receptador perde a confiança no negócio, algo decisivo para um comerciante. Melhor agir dentro da lei do que enfrentar a prisão. Melhora também a vida dos donos de carros, sempre sujeitos a morte durante assalto.
O desmonte ilegal de peças continua? Claro. Mas já não ocorre tão às claras, e de forma afrontosa, como era. Virou negócio de quadrilhas especializadas, que escondem o crime por meio de lavagem de dinheiro.