Um dos efeitos do resultado da eleição americana foi sentido em lavouras de todo o mundo. O motivo veio da Bolsa de Chicago, referência global de commodities agrícolas, onde as cotações da soja tiveram grande variabilidade ao longo do dia de quarta-feira (6). Essa volatilidade deve se manter nos próximos dias ou semanas, projetam especialistas. E reflete, entre outros fatores, o passado recente da primeira gestão de Donald Trump, quando a guerra comercial com a China afetou de forma significativa as exportações do grão produzido nos Estados Unidos.
— O mercado reagiu negativamente em Chicago, exatamente por olhar para trás e ver o que aconteceu no primeiro mandato. Vê a possibilidade mais clara da tensão com a China reacender — observa Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado.
Ele lembra que o cenário de preços já vinha em baixa, por conta da safra cheia dos EUA, da projeção de bons resultados na América do Sul e do recorde no Brasil, ampliando produção e estoques globais.
Sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo acrescenta que a tendência é de baixa para as cotações futuras de soja, milho e grãos por essa possibilidade de novas barreiras comerciais para a China, maior importador global e pela valorização do dólar — que deixa os produtos americanos mais caros no Exterior.
No relatório de análise sobre os impactos da eleição de Trump esperados para o agro mundial e brasileiro, cita que com as tarifas de retaliação dos chineses entre meados de 2018 e final de 2019, as perdas das exportações agrícolas dos EUA passaram de US$ 27 bilhões, com o país asiático respondendo por 95% do valor perdido. Essas perdas decorrem do redirecionamento da demanda a concorrentes, como o Brasil — contexto que traria, como trouxe, uma janela de oportunidade ao produto brasileiro.