Há uma resposta comum nos temas apontados como fundamentais para o agronegócio em 2023: a irrigação. Da pecuária à indústria de máquinas, o sistema é citado como uma ferramenta que precisa avançar, sob pena de prejuízos seguirem sendo acumulados. No Rio Grande do Sul, depois de um 2022 marcado por uma colheita de verão reduzida pela estiagem, o novo ciclo iniciado já traz perdas causadas pelo mesmo motivo: o tempo seco.
Uma pequena amostra, feita com 20 cooperativas do Estado na última semana, apontava uma perda média de 42% nas lavouras de milho, com variações que vão dos 10% aos 75%. É o terceiro ano consecutivo em que a cultura sofre o impacto da falta de chuva. Nesta quarta-feira (28), subiu para 19 o número de municípios que comunicaram estado de emergência à Defesa Civil.
Em contrapartida, o uso da irrigação ainda é pouco representativo no todo da produção. Dados da Radiografia da Agropecuária Gaúcha deste ano mostram que na safra 2021/2022, o sistema estava presente em 11,6% da área total cultivada com milho grão (ou 91,02 mil hectares). Na soja, o percentual é ainda menor: 2,38% (ou 152,33 mil hectares). Entraves relacionados à legislação para o licenciamento ambiental são apontados como um fator limitante.
Veja o que faz deste um dos temas relevantes listados pelo agro para o próximo ano:
1) A solução
"A solução", escreve o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, na legenda de fotos de lavoura de milho irrigada. As imagens foram enviadas logo depois de falar sobre a prioridade número 1, na sua avaliação, no Rio Grande do Sul:
— Temos de resolver o grande problema do Estado, que é a irrigação. Precisamos mexer no arcabouço legal.
Uma das defesas feitas pela entidade é a de que a irrigação e a reserva e água entrem na relação de atividades de utilidade pública, a exceção prevista à regra no Código Florestal em relação à intervenção ou supressão de vegetação em áreas de preservação permanente.
No RS, há ainda um impasse na área do bioma Pampa, relacionado à reserva legal e que é alvo de ação judicial, com liminar vigente. A divergência é em relação à consolidação de áreas de pecuária, o que tem impacto direto sobre a necessidade de 20% de reserva legal.
Outro ponto que trava o avanço, na visão de Pereira, é a qualidade da energia no campo.
2) Incentivo à adoção
Uma proposta que permita a utilização de créditos de ICMS pelo produtor no acesso a equipamentos de irrigação está sendo elaborada pelo Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers) e será entregue ao governador Eduardo Leite. Seria algo dentro da mesma lógica do Fundopem. A ideia, explica Claudio Bier, presidente da entidade, é dar um estímulo para que o agricultor faça o investimento.
— Com irrigação, teremos condições de fazer as duas safras por ano preconizadas pelo programa. É o ponto chave.
Na esfera federal, a expectativa é de que o gargalo de crédito, sobretudo em programas como o Mais Alimentos, que financia máquinas para o produtor familiar, seja equacionado.
3) Para todas as culturas
João Francisco Bade Wolf, presidente da Federação das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), reforça o coro de defesa do avanço na irrigação:
— Tem de ser para arroz, soja, pasto. Os pastos têm de estar bem cuidados, bem aguados para se ter uma eficiência grande na pecuária. A cultura do pasto é, na verdade, uma lavoura de carne, de genética.
O dirigente e produtor avalia que já houve avanços em relação aos entraves na legislação para o uso do sistema, mas entende que é necessária uma celeridade maior.
4) Olhar cooperativo
Também considerando o clima o maior desafio à atividade produtiva, Darci Hartmann, presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocergs), traz outros pontos que entende como relevantes para o segmento. Um deles é a necessidade de se manter o ato cooperativa como uma "cláusula pétrea", ou seja, algo que não tenha alteração em "qualquer reforma administrativa ou tributária".
— É uma questão fundamental para que o setor continue avançando — completa.
Crédito e regras claras em relação ao direito à propriedade e às questões ambientais são outros assuntos que Hartmann considera relevantes.
5) Pontos de atenção
Luis Felipe Barros, presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, aponta a sanidade do rebanho, a segurança no campo, as políticas públicas, a sustentabilidade e a necessidade de padronização do processo de toalete das carcaças como relevantes para o setor.
— Febre aftosa e doença da vaca louca são fatores sensíveis e extremamente preocupantes que devem ser ponto de atenção por parte do novo governo, tendo em vista que qualquer foco dessas doenças pode causar prejuízos irreparáveis para pecuária gaúcha e brasileira face ao “fechamento” de mercados internacionais, a duras custas conquistados — pondera, em relação à sanidade.