Com previsão de integrar as operações da Monsanto ainda neste mês, a alemã Bayer se vê às voltas com um grande problema. O ativo da companhia americana, adquirida pela europeia em 2016, em um processo ainda em andamento – a compra foi concluída em junho –, é gigantesco.
Mas a decisão da Justiça americana, de indenizar um jardineiro com câncer terminal que fez uso do glifosato, um dos principais produtos no portfólio da Monsanto, é um lembrete de que o negócio também traz um ônus. Que vai bem além do valor a ser desembolsado –
US$ 289 milhões, cerca de R$ 1,1 bilhão. Nesta segunda-feira (13), as ações da Bayer caíram 12%.
O ganho foi em primeira instância e poderá ser derrubado. Mas abre um precedente e tanto para o assunto.
A utilização do glifosato é, hoje, tida como essencial para a agricultura moderna. Ao mesmo tempo, é alvo de questionamentos por conta de riscos à saúde.
O Brasil tem, neste momento, liminar, concedida pela 7ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal que determina a suspensão, após 30 dias da data decisão, que é 3 de agosto, do registro de agrotóxicos à base de abamectina, glifosato e tiram. Novos registros também não devem ser concedidos. Tudo isso até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a reavaliação toxicológica dos princípios ativos, o que deve ser feito até 31 de dezembro deste ano. O procedimento de análise pelo órgão começou em, pasmem, 2008.
Se de fato o produto tem potencial cancerígeno, durante os últimos 10 anos ele seguiu sendo utilizado enquanto a Anvisa fazia a reavaliação. A morosidade poderá cobrar um preço alto.
Por outro lado, a determinação de suspender o uso do glifosato dentro de um mês – a União deve recorrer – preocupa o setor produtivo, que se prepara para semear a safra de verão. Hoje, em 95% das lavouras de soja do Rio Grande do Sul, por exemplo, é empregado o princípio ativo. O argumento é de que não existe no mercado produto capaz de unir eficiência no combate , disponibilidade e baixo custo. Mais do que isso, afirmam que o glifosato viabilizou o plantio direto, modernizando a produção.
Os argumentos são contundentes de ambos os lados, o que só confirma a complexidade da questão.