A Operação Carne Fraca é um marco que definirá o antes e o depois da indústria de carnes no país. Nada será igual frente à descoberta feita pela Polícia Federal, depois de dois anos de investigação. É porque no olho desse furacão estão gigantes do setor. Empresas que dominam o mercado e que eram tidas como referência de qualidade. Quem não lembra a marcante campanha publicitária com o ator Tony Ramos na qual afirmava "carne de qualidade tem nome, é Friboi"? Isso apenas para citar um exemplo de propaganda.
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Mais do que envolver grandes companhias, a fraude contava com a conivência de auditores fiscais federais agropecuários. Então, será preciso mexer em toda a estrutura que permeia a indústria de carnes para recuperar a confiança perdida do consumidor e para que a imagem, agora totalmente arranhada, seja resgatada. Talvez o Ministério da Agricultura possa considerar a proposta de promover um rodízio entre os auditores fiscais federais, que hoje, no caso da inspeção de carnes, atuam de forma permanente dentro de uma mesma indústria. Ao realizar trocas, reduz a possibilidade de corromper um agente.
Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirma que as "falhas que eventualmente venham a ser comprovadas são exceções em um modelo produtivo que é referência para o mundo". Fala em "questões pontuais, que não refletem todo o trabalho desenvolvido pelas empresas brasileiras durante décadas de pesquisas e investimentos, para ofertar produtos de alta qualidade".
Assim como nas fraudes do leite, não se pode generalizar o trabalho de todo o setor produtivo, mas a grandeza das empresas envolvidas atingirá em cheio a credibilidade do setor. Isso inclui os pecuaristas, que não estão envolvidos no esquema, mas certamente serão afetados pelo impacto da operação. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirmou em comunicado que "os produtores rurais têm dado uma grande contribuição ao desenvolvimento nacional... Portanto, não é justo que tenham a sua imagem maculada pela ação irresponsável e criminosa de alguns".
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirma que a determinação é de "tolerância zero com atos irregulares no Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento)". Espera-se que essas não sejam apenas palavras ao vento. Só mesmo o rigor da punição e os devidos esclarecimentos poderão afastar os fantasmas que agora cercam a carne no país.