Está mantido, mas exigirá uma grande adaptação o projeto do complexo com uma fábrica de aviões em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, previsto para o emblemático terreno que havia sido destinado à Ford. A Aeromot está incluindo um sistema de proteção contra cheias no planejamento da "Aerotropole" e, em breve, pedirá a licença ambiental que autoriza o início das obras, disse o presidente, Guilherme Cunha, ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha. Considerando todas as fases, o investimento pode chegar a R$ 3 bilhões, com 3 mil empregos.
Como enchente impactou o projeto?
Diretamente. Tivemos um alagamento muito forte em Eldorado do Sul e no início de Guaíba, onde começa a nossa área, que é lindeira. O Arroio do Conde é a divisão do nosso terreno. Na parte onde vai se construir a pista, teve um alagamento considerável. Tivemos que readequar o estudo e prever mitigações. A empresa que trabalha no nosso projeto é a mesma que suportou o IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas, da UFRGS) nos estudos do Estado. Foi coincidência, pois já tínhamos contratado antes da enchente. Sim, fomos impactados, mas não vemos o projeto como não viável. Só vai existir um nível de investimento maior, algumas precauções. Ainda bem que foi agora, havia poucas máquinas lá. Estávamos fazendo fundações e estudos ainda.
Como será a estrutura de prevenção.
É no que estamos trabalhando. Teremos as definições ainda em setembro para encaminhar à Fepam o pedido para a licença de instalação. Já temos a licença prévia. Estamos fazendo estudo de permeabilidade do solo, questões de compactação, para o qual tivemos que contratar empresa de fora. Hoje, são quase 20 empresas trabalhando no projeto. A ideia é finalizar em outubro e protocolar na Fepam até novembro, para termos todas as informações pertinentes para início de obra. Temos expectativa para a licença entre de 60 a 90 dias depois, possibilitando iniciar as obras no primeiro trimestre de 2025.
Qual será o aumento no investimento?
Não temos ainda o valor final. Prevíamos de R$ 80 milhões a R$ 120 milhões só para este início de fábrica. Hoje, já está em R$ 250 milhões. Aumentou drasticamente nos últimos três anos para cá e deve subir a R$ 500 milhões na obra. Estamos já conversando para trazer outras tecnologias além da Diamond, um centro de desenvolvimento com o escopo da aviação.
Como ficou a unidade de Porto Alegre?
Temos uma base administrativa e operacional na Avenida Sertório que não foi alagada. Mas o hangar, tudo nosso no aeroporto Salgado Filho, teve dois metros de água, 100% afetado. Aeronaves todas debaixo da água. O pessoal ainda está sem operar.
Havia previsão de começar a fabricar os aviões em Porto Alegre. Como ficou?
Estava bem encaminhado. Tínhamos um contrato com os hangares da antiga Varig, fechamos esse contrato com a Fraport. Estávamos finalizando as licenças. Mas com o alagamento, teremos que fabricá-los nas unidades da Diamond na Áustria e no Canadá para entregá-los. Ao invés de ter fábrica provisória na Capital, trabalharemos, de fato, com a definitiva já em Guaíba no ano que vem.
O governo do Estado tem a intenção de ter um aeroporto de backup ao Salgado Filho. O terminal de vocês poderia ser usado para isso?
Sim, pode ser. Mas precisamos deixar claro que estamos montando o nosso projeto para ser um complexo industrial com pista privada, não um aeroporto público. Porém, podemos transformar, com participação direta do governo do Estado. Há a possibilidade de uma pista de 1,8 mil metros, na qual tranquilamente pousa qualquer tipo de aeronave dentro do porte nacional. Temos uma base em Minas Gerais, por exemplo, no Aeroporto da Pampulha, que é concedido para a CCR, com foco extremamente executivo e sem linhas aéreas. Porém, se você tem um problema em Confins, que é o aeroporto principal, você tem um aeroporto backup, onde pousa qualquer avião. A Azul, inclusive, faz manutenção nos aviões dela lá.
A pista suportaria grandes aeronaves?
Já estamos prevendo na construção agora, privada, que a compactação da pista consiga suportar o peso máximo de todas as aeronaves operando no Brasil, cargueiro e de passageiro, Boeing e Airbus. Não cargueiro internacional, que é o caso Salgado Filho, que ampliou a pista para poder ter esses voos diretos.
Assista também ao programa Pílulas de Negócios, da coluna Acerto de Contas.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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