O Grêmio ainda discute a permanência do técnico Renato Portaluppi para a próxima temporada e já está analisando o mercado para buscar reforços. O que, no entanto, precisa ser visto e discutido vai muito além dessas análises. Os números debatidos na última reunião do Conselho Deliberativa, em comparação com as últimas temporadas, assustam.
Na última semana, a diretoria do Grêmio apresentou o orçamento para a temporada 2025. Os números divulgados indicam um caminho muito perigoso para o clube. O orçamento é composto de uma proposta de despesas a serem feitas no ano e as receitas que darão suporte a essas despesas. O Conselho, historicamente, aprova os números sugeridos pelo executivo. O curioso aqui é que grupos políticos, antes notadamente cuidadosos com os números negativos, têm silenciado neste perigoso momento apenas por estarem alinhados à gestão.
A gestão do presidente Alberto Guerra aprovou, de forma inédita, dois orçamentos com déficits expressivos. Em 2023, o déficit proposto e aprovado foi de R$ 49,5 milhões. Para 2024, foi aprovado novo déficit, de R$ 22,0 milhões, que passou para R$ 58,1 milhões após a suplementação.
As principais contas de despesas são os custos do futebol (salários, imagem e encargos de atletas e comissão técnica, além de funcionários administrativos do Futebol). Chama a atenção também o pagamento para os sócios ingressarem na Arena, que representa um custo que os torcedores pouco conhecem e que são referentes ao famoso contrato. As despesas com juros, depreciações e amortizações (redução gradual dos direitos econômicos dos jogadores conforme o contrato vai transcorrendo) também merece ser analisada com atenção.
O quadro abaixo mostra o total de despesas realizadas em 2023 (número final), a despesa de 2024 após a suplementação e a orçada para 2025.
O orçamento total de despesas autorizadas pelo Conselho Deliberativo para a gestão Guerra nos 3 anos da gestão (2023/2025) é de R$ 1,6 bilhão. Sem considerarmos as despesas de juros, depreciações e amortizações, o montante gasto com salários, encargos, contratações, ingresso de sócios, viagens e outras despesas menores chega a R$ 1,2 bilhão.
O Grêmio é um clube que suporta gastar bastante, mas quando chegamos ao crescimento do endividamento não se pode ficar parado. Esse ponto pode afundar o clube e tornar inviável qualquer busca por lutar pela competitividade no cenário nacional.
A gestão Guerra assumiu em novembro de 2022. O quadro abaixo mostra a evolução das principais rubricas para acompanhar a evolução do endividamento do Grêmio. A rubrica “outros empréstimos” abriga, basicamente, empréstimos com investidores (Celso Rigo, por exemplo).
De outubro de 2022 a setembro de 2024 (24 meses), os empréstimos subiram R$ 58,7 milhões. No mesmo período, as obrigações pela contratação de atletas aumentaram R$ 61,3 milhões. Estas rubricas (itens “B” e “C” acima) contemplam direitos econômicos e comissões a pagar. No total, o clube teve suas obrigações com empréstimos e dívidas por contratações aumentadas em R$ 119,96 milhões, nos 24 meses da gestão. Podemos dizer que, a cada mês, o clube fica R$ 5 milhões mais endividado.
O torcedor do Grêmio, que está preocupado com o técnico ou o lateral esquerdo, precisa entender o tamanho do risco de estar cada mês mais endividado. Está na hora de mudar esta rotina e pensar no clube. Este status vai levar o Grêmio a um caminho muito pior do que uma derrota dentro do campo.