Quinto maior produto agropecuário exportado pelo Brasil – atrás da soja, açúcar, carne de frango e celulose –, a carne bovina viu sua importância aumentar em 2017, tanto por motivos internos quanto externos. No primeiro semestre, o setor pecuário nacional se deparou com situações extra cadeia, que poderiam decretar um ano perdido em termos de vendas e de preços.
A Carne Fraca colocou em xeque o sistema de inspeção sanitário do país e a delação do maior processador de proteína do Brasil e do mundo – responsável por cerca de 50% das exportações de carne bovina brasileira – limitaram as vendas, devido à retração no abate diário e na industrialização. Nesse contexto, a carne chegou a se desvalorizar cerca de 20% no país, enquanto no mercado internacional houve aumento do produto, devido à falta da proteína brasileira.
Esses movimentos fizeram com que outros grupos nacionais expandissem seus abates, voltassem a operar plantas paradas, elevando suas participações nos mercados doméstico e externo. Assim, mesmo com os choques internos, mas aproveitando o cenário de oferta instável no mundo, as exportações brasileiras de carne bovina somam números positivos. No acumulado até novembro, os embarques totalizam 1,102 milhão de toneladas em 2017, sendo esse o segundo melhor ano (até o momento) da história, perdendo apenas para 2014, quando 1,119 milhão de toneladas foram embarcadas, também de janeiro a novembro.
Com isso, percebeu-se ao longo de 2017 a importância estratégica da carne bovina brasileira. De acordo com dados do AgriBenchmark, do Cepea, o Brasil é responsável por cerca de um quinto da produção mundial de carne bovina, tendo uns dos menores custos de produção.
Nossos principais concorrentes, Estados Unidos, Austrália, Índia e China, têm desafios de produção, sejam eles estratégicos, climáticos ou de barreiras. Os norte-americanos são grandes exportadores, mas são os maiores importadores mundiais – vendem carne com alto valor agregado e compram carne barata. A Austrália passa por redução de rebanho, devido à seca, o que eleva seus preços e deixa sua carne menos competitiva. Com problemas religiosos e a indecisão de proibição ou não do abate de vacas, a Índia não tem uma cadeia organizada com produto de qualidade e de padrão para oferecer ao mundo. Por sua vez, a China tem grande rebanho, mas custos elevados de produção, sendo grande demandante.
Neste ponto, os chineses estão sendo os grandes responsáveis pelos embarques crescentes do Brasil em 2017. O país representa em torno de 40% do total embarcado neste ano, sendo um mercado estratégico e de expansão para a carne bovina.
Depois de apanhar com a Carne Fraca e com a corrupção, o produtor brasileiro observa a retomada de preços e a cadeia consegue trabalhar com números positivos, projetando um 2018 menos turbulento para a atividade.
Sergio De Zen é doutor, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)
Thiago Bernardino de Carvalho é pesquisador da Equipe Pecuária
cepea@usp.br