O fruto não cai longe do pé. Ao fazer valer o dito popular, o agrofloresteiro Namastê Messerschimidt repete a história do pai, um alemão criado no nordeste brasileiro, que começou a plantar respeitando os ciclos da natureza e devolvendo ao solo aquilo que produz. Baseado nessa lógica, o paulista que aprendeu a semear aos 16 anos está rodando o mundo para ensinar a técnica da sintropia e, com ela, instigar produtores rurais a repensarem a sua relação com o ambiente.
De facão em punho, ele corta, capina e revolve a terra. A lógica é nutrir sem aditivos. Em plantio associado com árvores – agrofloresta –, as mudas seguem o ciclo e cada planta só pode dá fruto na época ditada pela natureza. Para manter o solo úmido, usa cobertura de folhas e material decomposto.
– A agrofloresta tem a cara de seu dono. Trará frutos de acordo com os cuidados que a ela foram destinados – diz o agricultor que já estagiou com índios do Xingu e hoje é consultor da Fazenda Da Toca, de propriedade do ex-piloto e empresário Pedro Paulo Diniz, e do Instituto Socioambiental (ISA).
Namastê é um dos disseminadores do conceito criado pelo suíço Ernst Götsch, que coloca a árvore como componente decisivo na produtividade. A sintropia recupera solos seguindo a lógica de nutrir a plantação com biomassa da poda de árvores do próprio terreno.
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Na Europa, Götsch estudou e trabalhou com melhoramento vegetal até a década de 1970, antes de vir ao Brasil e encontrar araucárias centenárias sendo derrubadas para dar lugar a lavouras de soja. Anos depois, o cientista voltou e, em parceria com donos de fazendas, trabalhou até ter sua própria terra e fazer dela um laboratório experimental. Passados 15 anos, a propriedade, em Piraí do Norte, na Bahia, deixou de ser infértil para dar lugar a 350 hectares de reserva particular de patrimônio natural, 120 hectares de reserva legal e 10 hectares de lavouras.
A fazenda, além de gerar alimento para a família, serve de exemplo para pesquisas e estudos internacionais. São 3,5 mil quilos de cacau por safra, produto de maior qualidade exportado com valor quatro vezes superior ao tradicional. O destino é a Amedei, na Itália, fabricante de um dos melhores chocolates do mundo. Antes chamada Fugidos da Terra Seca, a área recuperou fauna e flora e reativou mananciais hídricos, o que a fez ser rebatizada como Fazenda Olhos D´água. Dizem ainda que a presença de árvores e biodiversidade também “produziu” chuva, mudando o microclima do local.
– Buscamos a otimização de processos de vida de todo o ecossistema. E trabalhamos para que a nossa participação se transforme em fator benéfico e enriquecedor para o macroorganismo Planeta Terra – diz o suíço.
Foi nesse ambiente que Namastê entendeu que manter a agrofloresta produtiva é como fazer a própria casa funcionar:
– Se cuidar bem, tratar, arrumar, tudo dá – afirma.
O local onde a cooperação é diretriz para a produção de alimentos serve de berço para o aprendizado de novos empreendedores da sustentabilidade agrária.
Meta é produzir em larga escala
Felipe Villela, 24 anos, estudante paulista criado no Rio Grande do Sul, pretende aplicar a tecnologia em sistemas agroflorestais. Criador do projeto Foodrone, planeja usar drones para a dispersão de sementes (aos moldes do americano Lauren Fletcher, da BioCarbon Engineering). Após viagem para a Amazônia, deixou o curso de Engenharia na UFRGS para ir à Holanda aprender técnicas de plantio. Agora, junto com colegas e incentivo do governo holandês, testará o uso da água em um hectare na cidade de Den Bosch, e ver como a sintropia evita os efeitos das mudanças climáticas.
Na Europa Vilella teve contato com Götsch. Seu propósito agora é usar a tecnologia para viabilizar a agricultura sintrópica em larga escala, e com isso, buscar recursos estrangeiros para desenvolver projetos no Brasil.
– Eles estão mais conscientes lá fora, entendem que a economia não existe sem os recursos naturais. Aqui, as pessoas ainda apresentam resistência a essa corrente por colocarem o lucro na frente – afirma o estudante.