Depois de um hiato de tantos anos que sequer lembra o número exato, o agricultor Julio Susin, de Pontão, no norte do Estado, voltou a apostar na cevada para a safra de inverno. O produtor, que já vinha em um processo de redução da lavoura de trigo, resolveu não insistir na cultura neste ano, após a quebra de produção e os prejuízos registrados em 2014.
Gisele Loeblein: quais serão os limites do trigo no RS
Estimulado pela demanda crescente do mercado de cervejas artesanais, cultivou 50 hectares com cevada - mais que o dobro da área destinada ao trigo no ciclo anterior. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que a cevada deve manter a mesma área do ano passado no Estado, de 63 mil hectares, e a expectativa é que a produção aumente 53%, para 175,6 mil toneladas.
- Optei pela cevada porque tem comércio, venda garantida, ao contrário do trigo, que tu não sabes por quanto e nem quando vai vender. A essa altura, pelo menos tu consegues fazer contas e, mesmo colhendo mal, tu vendes - diz o produtor.
Excedente preocupa
Além da garantia de comercialização, outra vantagem em relação ao trigo, segundo Susin, é que o grão é um pouco mais resistente à geada. O agricultor conta que, se o produto tiver qualidade, espera vender a saca para uma maltaria de Passo Fundo ao preço de até R$ 37.
Alimentos mais caros não significam que agricultor esteja recebendo mais pelos produtos, aponta Farsul
Em último caso, ainda há a opção de destinar o produto para ração, a R$ 22 a saca. No ano passado, plantou 20 hectares de trigo e vendeu o cereal a R$ 25, o que não chegou a cobrir o custo de produção.
Alto custo de produção deve provocar redução na área plantada de trigo
Na propriedade de 125 hectares, o trigo - principal cultura da safra de inverno no Rio Grande do Sul - já chegou a ocupar 40% da área total. Mas o preço baixo, o custo alto e as quebras de safra desestimularam o produtor. Agora, para não deixar a área descoberta, também plantou aveia e azevém pensando na produtividades dos grãos de verão. O agricultor garante, no entanto, que não pretende desistir do trigo:
- Temos trigo de qualidade e produtivo, mas chega na hora de vender, e aí complica. Acabamos dependendo muito dos mecanismos do governo federal, e o governo às vezes ajuda, às vezes atrapalha. Então, precisamos de um trabalho para tirar o excedente do mercado.