O Rio Grande do Sul vive neste inverno situação inversa à do ano passado e na contramão do cenário nacional. Enquanto no Brasil área e produção de trigo irão crescer, no Estado, o mau tempo vem consolidando perdas significativas em volume e qualidade.
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e IBGE apresentaram ontem seus levantamentos para a produção nacional de grãos (incluídas as culturas de verão), que poderá chegar, no cenário mais otimista, a 200 milhões de toneladas no ciclo 2014/2015. Alta na casa dos 2% em relação à safra anterior.
Depois de produzir históricas 3,35 milhões de toneladas de trigo em 2013, os gaúchos precisam provar agora o gosto amargo de uma colheita que irá diminuir tanto em volume quanto em qualidade. Nos dados da Conab, a produção atual foi revisada para 2,49 milhões de toneladas. Como o estudo foi feito no final de outubro, ainda não reflete as perdas que os produtores têm visto no campo com avanço da colheita em novembro.
Ao mesmo tempo, o Paraná terá colheita farta de 3,87 milhões, acréscimo de 110% em relação ao ano passado, quando viu sua condição de maior produtor nacional ser derrubada pelo Rio Grande do Sul e por uma geada que encolheu a produção para 1,84 milhão de toneladas. Com uma diferença em relação ao que ocorre agora em solo gaúcho.
- No Paraná, já se sabia desde o início do ciclo que haveria perdas, que não teria como recuperar a produção - pondera Glauto Lisboa Melo Junior, superintendente da Conab no RS.
O início de plantio foi tumultuado, com chuva em excesso, que empurrou a semeadura para além do calendário recomendado. Ao longo do cultivo, outros fatores foram, pouco a pouco, comprometendo os resultados: geada, volta da chuva, falta de luminosidade e calor em excesso. Os problemas se multiplicaram e só poderão ser completamente mensurados com o fim da colheita.
- Estamos colhendo trigo muito ruim. Cada vez que dá uma chuva, há perda de qualidade. Esse vai ser o grande impacto na mão do produtor - avalia Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
Um pouco desse prejuízo poderá ser compensado pelos resultados do milho e da soja na safra de verão, em pleno cultivo.