Foi com base em resultados de análises feitas pela Universidade de Passo Fundo que a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) sentou à mesa, nesta quinta-feira, com representantes do governo e da indústria para debater a qualidade da safra gaúcha de trigo - com produção recorde de 3,17 milhões de toneladas. Das 497 amostras avaliadas, 51,51% atendem às características definidas em instrução normativa para as variedades pão e melhorador, as mais buscadas pela indústria. Ou seja, pouco mais da metade tem o que o mercado pede - atualmente, entre 65% e 70% do consumo do trigo se destina à panificação.
- Tem se visto progresso muito grande da qualidade, e nos últimos anos isso tem se acelerado - diz Luiz Carlos Gutkoski, gerente técnico do laboratório de cereais do Centro de Pesquisa em Alimentação da UPF.
Mas quando a finalidade é panificação, "a qualidade ainda está um pouco aquém", diz Marcelo Vosnika, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Com critérios diferentes, em que foram consideradas outras variáveis - e, portanto, sem comparação direta com os dados da UPF -, a Abitrigo analisou 718 amostras do produto gaúcho, também da atual safra: 14% se enquadravam como sendo dos tipos pão e melhorador.
Um jeito de driblar a polêmica é fazer a segregação, ou seja, separar o grão por qualidade específica. Já tem produtor gaúcho ganhando 20% acima do mercado por conta disso.
- Não queremos vender biquíni na Sibéria. A segregação é colocar o biquíni de um lado e o abrigo do outro - comparou o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, mostrando que o produtor têm interesse em vender aquilo que o mercado precisa.
A Farsul está fazendo um levantamento dos produtores que têm trigo segregado. Para a indústria, o problema, contudo, vai além da mera questão da qualidade. Há oferta concentrada do produto em um período específico do ano.