Um tema árido espera o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para a aguardada visita ao Estado, que não mais ocorrerá nesta quarta-feira, como previsto anteriormente. Cardozo se reunirá com produtores rurais para falar sobre a demarcação de terras indígenas no Rio Grande do Sul.
O encontro anunciado na semana passada, foi adiado para o final do mês ou início de novembro, de acordo com Ricardo Zamora, chefe de gabinete do governador Tarso Genro.
A transferência, porém, não agradou aos agricultores da Região Norte, que em protesto podem voltar às ruas com seus tratores, como fizeram na sexta-feira, em Passo Fundo, diz o presidente do sindicato rural do município, Paulo de Tarso, chamando atenção para o caso.
A situação é preocupante pelo futuro econômico dos produtores, mas também por um motivo de curto prazo. O desafio imediato do ministro não é resolver a disputa judicial, mas pelo menos arrefecer os ânimos em cidades como Sananduva e Mato Castelhano e na região da reserva indígena de Mato Preto, também no norte do Estado. Os municípios envolvidos na questão são um barril de pólvora com pavio não muito longo, e estão entre aqueles que podem perder grandes áreas hoje em mãos de agricultores.
- O clima é tenso, e daqui a pouco acaba tendo alguma vítima, agricultor ou índio. Entendemos o lado dos índios também, mas não se pode tirar de casa imigrantes e seus descendentes, que estão nessas terras há 140 anos - critica o presidente do sindicato rural de Passo Fundo.
Sidimar Lavandoski, integrante da diretoria da Fetraf/Sul e coordenador do tema na entidade, diz esperar que o governo traga ao encontro uma proposta de solução para desemperrar o caso de uma vez.
- Queremos basicamente que o assunto ande, porque está parado e não vemos nada ser feito. Não está se apontando um caminho para evitar as desapropriações - avalia Lavandoski.
Mais do que em Estados como o Mato Grosso do Sul - onde a maior parte das terras é fruto de grilagem, de acordo com Zamora -, no Rio Grande do Sul a questão é a legalidade das desapropriações e indenizações.
- Aqui são terras em que se têm títulos de propriedade concedidos pelo Estado. Só em Mato Preto, são 4,2 mil hectares envolvendo 370 famílias - completa Zamora, que coordena o grupo de trabalho do governo gaúcho sobre o assunto.