O coração de Dom Pedro I está preservado há 187 anos devido a uma solução conhecida da medicina: o formol. O órgão chegou ao país na manhã de segunda-feira (22) como parte das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil.
O coração de Dom Pedro I esteve exposto no salão nobre da Igreja da Irmandade da Lapa, na cidade do Porto, desde a morte da autoridade, em 1834. Assim, a visita ao Brasil é a primeira vez em que o órgão sai de Portugal. O coração foi preservado devido a um pedido do próprio imperador. Os demais restos mortais de Dom Pedro I foram trazidos ao país em 1972 e estão depositados na Cripta Imperial no Parque da Independência, em São Paulo (SP).
O formol é uma substância utilizada para preservar órgãos e cadáveres para estudos em laboratórios de anatomia. De acordo com o professor do curso de Medicina da Universidade Feevale Julio de Oliveira Espinel, para que possa durar anos, o órgão ou o corpo precisam ser "blindados" do contato com substâncias presentes no ambiente, que são capazes de destruir as peças anatômicas após a morte do indivíduo.
— O formol cria um ambiente em que nenhum germe consegue prosperar, ele constrói uma barreira, protegendo a peça da decomposição — explica.
De acordo com o professor, são duas as principais formas de conservação de cadáveres humanos usados para estudo. A primeira, a mais comum, é substituir o sangue do cadáver por um líquido de preservação, que, no caso, é o formol. Depois, é feita a imersão do corpo em um tanque com a mesma solução, para que o líquido penetre na pele, processo que pode durar meses. O formol, assim, impede a decomposição natural do corpo.
Por fim, o cadáver é dissecado e os órgãos podem ser retirados para estudo. Há outro modo, que consiste em retirar uma víscera - que pode ser o coração -, realizar o processo apenas para esse órgão e utilizar o formol para preservá-lo em um recipiente.
— Em condições ideais, (o órgão) pode ser mantido em formol por séculos, não há um limite para isso. Mas ele precisa ser bem preservado, respeitando os limites das condições ambientais, térmicas e ser mantido fechado — explica Espinel.
O especialista acrescenta que não é preciso um recipiente especial para manter a peça no formol: pode-se utilizar vidros e plásticos comuns, por exemplo. Além disso, feito o processo e conservado o material em situações ideais, em geral, não é necessário trocar a substância para preservar o órgão.
— Com o tempo, algumas partículas do músculo (no caso, do coração) podem deixar o líquido turvo. Aí dá para fazer manutenção trocando por um líquido mais limpo, mas, via de regra, não precisa. Quando colocamos um órgão em formol é normal que ele mude, e o desafio é mantê-lo o mais parecido ao que era em vida — comenta.
No entanto, o formol pode causar problemas durante a manipulação. Isso porque o produto tem um forte cheiro e pode originar doenças respiratórias no longo prazo, em especial em quem tem contato diário com a solução. Por isso, segundo Espinel, opções ao formol na preservação de cadáveres humanos hoje são a glicerina e um processo chamado de plastinação.