O hospital chinês supostamente ligado à polêmica experiência que implica a criação dos primeiros bebês geneticamente modificados do mundo negou seu envolvimento no caso nesta terça-feira (27).
Em um comunicado, o Hospital Harmonicare para Mulheres e Crianças da cidade de Shenzhen afirmou que suspeita de que a assinatura de um documento aprovando esse experimento, especificamente sua adesão a padrões éticos, tenha sido falsificada. O centro médico também pediu às autoridades que investiguem o caso.
"Sempre nos opusemos firmemente ao desenvolvimento de experimentos genéticos que violam a ética e a moralidade humanas", enfatizou o hospital em seu site.
Na véspera, quando a experiência foi anunciada, o governo de Pequim ordenou a abertura de uma investigação sobre as alegações de um cientista chinês que afirmou ter feito a primeira edição genética de bebês.
A experiência seria um feito médico inovador, mas gerou uma enxurrada de críticas. Um vídeo postado no YouTube pelo professor universitário He Jiankui afirma que duas irmãs gêmeas, nascidas há algumas semanas, tiveram seu DNA alterado para evitar que contraiam o HIV, provocando um debate acalorado na comunidade científica.
Enquanto alguns especialistas duvidaram do avanço alegado e outros o depreciaram como uma forma moderna de eugenia, a Comissão Nacional de Saúde da China ordenou uma "investigação imediata" sobre o caso, informou a agência de notícias oficial Xinhua nesta terça-feira (horário local).
O professor, que estudou na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e trabalha em um laboratório de Shenzhen, no sul da China, disse que o DNA das gêmeas foi modificado usando CRISPR, uma técnica que permite aos cientistas remover e substituir uma fita com precisão.
O desenvolvimento foi divulgado no domingo em um artigo publicado pela revista MIT Technology Review, que fez referência a documentos médicos postados online pela equipe de pesquisa de He para recrutar casais para os experimentos. He disse que os bebês, conhecidos como "Lulu" e "Nana", nasceram por fertilização in vitro regular, mas usando um óvulo que foi especialmente modificado antes de ser inserido no útero.
A edição genética é uma correção potencial de doenças hereditárias, mas é extremamente controversa porque as mudanças seriam passadas para as gerações futuras e poderiam afetar toda a piscina genética. A universidade onde He trabalha disse que ele estava em licença não remunerada desde fevereiro e que sua pesquisa é uma "grave violação da ética e das normas acadêmicas".
Uma declaração conjunta de um grupo de cem cientistas na China criticou os resultados e pediu uma melhor legislação sobre a fertilização in vitro. Outros cientistas em todo o mundo também foram críticos. Alguns disseram que um vídeo do YouTube era uma maneira inadequada de anunciar descobertas científicas, e outros alertaram que a exposição de embriões e crianças saudáveis à edição genética era irresponsável.
A questão da edição do DNA humano provoca debates, e só é permitida nos Estados Unidos em pesquisas de laboratório – embora cientistas americanos tenham dito, no ano passado, que editaram com sucesso o código genético de leitões para remover infecções virais latentes.
Mas esta não é a primeira vez que pesquisadores chineses mexem com a tecnologia de embriões humanos. Em setembro deste ano, cientistas da Universidade Sun Yat-sen usaram uma versão adaptada da edição genética para corrigir uma mutação causadora de doenças em embriões humanos.
Há também uma história de fraude dentro da comunidade acadêmica da China – incluindo um escândalo no ano passado que levou à retirada de cem trabalhos acadêmicos "comprometidos".
He Jiankui não se manifestou a respeito das críticas a seu trabalho.