A visão de quem chega ou deixa Porto Alegre pela Avenida Castelo Branco não será mais a mesma após as 9h deste domingo (6). É quando ocorrerá a implosão da antiga sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado. Os nove andares de paredes chamuscadas e fios expostos materializam a noite trágica de 14 de julho de 2021. Mais do que fazer ruir parte do gigante de concreto, o sinistro encerrou a vida de dois bombeiros militares, enquanto trabalhavam no combate às chamas.
A implosão foi marcada para o fim se semana em razão de domingo ser um dia de menos movimentação em Porto Alegre. Ainda assim, a operação deve acarretar em série de alterações na rotina da Capital. Perímetro formado por raio de 300 metros no entorno do prédio precisará permanecer isolado — inclusive com desocupação de imóveis. O intuito é tentar garantir que a demolição, com uso de 200 quilos de explosivos, não cause outros danos.
Um dos engenheiros à frente do projeto é Manoel Jorge Diniz Dias, conhecido como Manezinho da Implosão. Reconhecido na área, é um dos responsáveis pelas maiores implosões no Brasil. Em fevereiro de 1998, enfrentou aquele que considera o maior desafio da carreira: o Edifício Palace II, no Rio de Janeiro. Mas acumula também no currículo a implosão da penitenciária do Carandiru, em São Paulo, em 2002, do Edifício Berrini, em São Paulo, em 2008 – considerada uma das operações mais difíceis já executadas no país — e do Estádio da Fonte Nova, em Salvador, em 2010.
O Palace II é apontado por Dias como uma implosão de nível 10 de complexidade — o mais alto da escala utilizada. No caso do prédio em Porto Alegre, o engenheiro afirma estar diante de um grau oito. Ainda que não esteja colado a outros prédios, como em algumas implosões, o edifício apresenta riscos. O principal deles é o fato de ter sido atingido por incêndio e que parte da estrutura já desabou durante o sinistro.
Diante dessa situação, série de medidas foram adotadas desde o começo de fevereiro para avaliar o prédio colapsado e tentar reduzir os riscos. Isso passa por engenheiros, técnicos e estudiosos, encarregados e ajudantes da área de construção.
— A implosão é uma obra ao contrário — compara Dias.
Desde 1º de fevereiro, a equipe da FBI Demolidora, empresa com sede em Cotia, São Paulo, contratada para a implosão, trabalha no local. O valor do serviço, que inclui a demolição e remoção dos escombros com transporte e descarte apropriado, é de R$ 3,1 milhões.
Quando concretizada, esta será a primeira implosão de prédio na Capital desde 1976, quando o edifício das lojas Renner foi posto abaixo cerca de um mês após ser atingido por incêndio. O imóvel localizado na esquina das ruas Otávio Rocha e Doutor Flores, no Centro, foi implodido em apenas seis segundos.
Implosão
Neste domingo, para a demolição na SSP, serão feitas as últimas ligações dos explosivos, incluindo o circuito que levará ao detonador do principal. Conectado por um tubo pirotécnico de 300 metros, assim que for acionado, o detonador deflagrará uma substância com velocidade de mil metros por segundo.
— Esperamos que tudo transcorra sem qualquer incidente — afirma o engenheiro Dias.
Antes da implosão, serão emitidos cinco alertas sonoros, sendo o último dele às 8h59min, quando inicia a contagem regressiva. E em apenas sete segundos, uma série de micro detonações fará com que a estrutura venha abaixo. Sismógrafos em pontos estratégicos registrarão a vibração e som.
A implosão deverá ser assistida por autoridades em espaço montado na área de estacionamento do Cais do Porto. Após a detonação, os funcionários da empresa esperarão a poeira se dissipar e, em seguida, vão vistoriar o prédio. Os outros imóveis, na chamada área de risco, também serão avaliados. A expectativa é de que até 9h30min soe nova sirene, indicando que tudo correu como o previsto.
Desocupação
Além do trabalho realizado no prédio, operação foi montada para tentar reduzir os riscos de que a implosão possa causar algum outro dano no entorno. Foi determinada a desocupação de todos os imóveis num raio de 300 metros. Por isso, moradores e proprietários de comércios foram notificados. É preciso deixar os locais até as 8h, tomando medidas de precaução, como fechar o registro do gás e levar animais de estimação.
O trânsito e transporte também sofrerá alterações, ainda que a implosão seja realizada num domingo. Já no sábado, a partir das 18h, passou a ser proibido estacionar veículos no perímetro próximo ao do prédio. Na manhã deste domingo, haverá bloqueios em 14 pontos do trânsito, impedindo que veículos e pedestres se aproximem.
Um dos prédios próximos da SSP é a rodoviária, que ficará fechada e funcionará entre 7h e 12h no Terminal Conceição. O trensurb também terá alterações durante a manhã, quando as estações São Pedro, Rodoviária e Mercado estarão fechadas. Os embarques e desembarques mais próximos do Centro só poderão ocorrer na Estação Farrapos. Será disponibilizado ônibus que seguirá da Estação Farrapos até a Estação Mercado.
E depois?
Após a implosão, ainda serão necessários até 30 dias para que as 20 mil toneladas de escombros sejam removidas do local. Ao longo do mês de março, o governo do Estado pretende definir qual o destino daquela área. Entre as possibilidades, está a de reconstruir o prédio no local ou permutar a área com a iniciativa privada para que nova sede da SSP seja erguida em outro ponto da Capital.