Fábio Aurélio Cabral de Menezes foi um menino que cresceu jogando bola no Campo do Panamá, na Bom Jesus, em Porto Alegre. Aos 11 anos, chamava atenção com os dribles nos treinos do Social Futebol Clube, um projeto da prefeitura da Capital, e dizia que queria ser como o Ronaldinho Gaúcho. O apelido ganhou força não só pela habilidade com a bola, mas também pela semelhança física – era magrinho e dentuço. Agora, com o dobro da idade, a vida do guri virou de ponta cabeça. Hoje, Menezes tem 22 anos e é foragido da Justiça por suspeita de ser autor de um latrocínio no Centro Histórico.
Titular da 17ª Delegacia de Polícia, o delegado Cleber Lima, concluiu que Menezes é o autor das facadas que mataram Seimar Moraes de Souza, 44 anos, durante um assalto na Rua Marechal Floriano Peixoto na noite de 21 de junho. Pouco antes, ele também teria tentado assaltar, com faca, o proprietário de um restaurante na Rua General Vitorino.
Quando era só um menino de 11 anos, Menezes colecionava elogios por se destacar em campo. Na época, foi tema de reportagem de Zero Hora, em 2009, e se dizia animado, que tinha sonho de ser jogador:
— O pessoal já me chama de Ronaldinho. Vou treinar de ônibus, às vezes direto da escola, sem comer, mas chego lá. Quero ser Ronaldinho.
O talento foi descoberto pelo Social Futebol Clube, no Parque Marinha do Brasil, onde Menezes passava os dias batendo bola com outros meninos. Marion Terezinha Soares Cabral, 55 anos, mãe do rapaz, conta que o filho teve duas passagens pelas categorias de base do Grêmio, Internacional e jogou campeonatos pelo São José, clube em que ficou por mais tempo. Por alguns anos, parecia que a carreira de jogador iria engrenar:
— Teve até empresário, andava para todo lado de carro. Desde o momento em que colocaram os olhos nele, não precisava nem treinar. Chegava, botava a camisa e saia jogando. Mas ele colocou a carreira fora, tudo fora. Depois não quis mais e foi para outro lado. O lado que ele tá agora, da bandidagem — relembra a mãe.
Com sete irmãos, Menezes nasceu e cresceu na Bom Jesus, zona leste da Capital. Foi criado apenas pela mãe – perdeu o pai por insuficiência respiratória quando ainda era bebê. Cursou até o sexto ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Nossa Senhora de Fátima e, segundo a mãe, não gostava de estudar:
— Volta e meia me chamavam porque ele incomodava no colégio. Mas tenho boas lembranças dele. Para mãe, não existe filho ruim. Ele tinha um talento para bola que vou te contar. Era um guri bom, vendia pano de prato, bala. Nunca mexia em nada de ninguém. Sempre pedia para pegar o que comer até dentro de casa. Depois que virou a cabeça.
"Chamávamos ele de Ronaldinho"
Coordenador do Social Futebol Clube ao longo de 10 anos e hoje presidente da Esporte Coop (Cooperativa de Trabalhos dos Esportistas Práticos do Brasil), que trabalha em convênio à Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, Clóvis Meira lembra de Menezes em campo. Recorda do apelido de Ronaldinho da Bom Jesus e dos lances do garoto nos treinos:
Aí esta a necessidade de o esporte estar presente na vida desses meninos para que não ocorram tragédias como essa. E elas acontecem quase que diariamente. O menino que está no esporte, quando chega na adolescência tem dois caminhos: um é ir para o esporte, aperfeiçoar estudos, o outro é o monstro que tá ali, que é o tráfico. As crianças não conseguem passar despercebidas depois dos 12 anos. Sofrem várias pressões disso.
CLÓVIS MEIRA
Coordenador do Social Futebol Clube
— Chamávamos ele de Ronaldinho. Era bem levado, mas simpático, estava sempre perto da gente. Chamava atenção no grupo, tinha qualidade técnica, uma perna esquerda boa. Na época, comentávamos que muitos meninos vinham para o futebol com qualidade técnica muito boa mas aquilo não tinha continuidade por uma série de fatores. Um deles é o fato de não ir para um time formador como Grêmio e Inter.
Meira afirma que o guri tinha potencial se tornar um jogador de alto rendimento. A mãe, no entanto, relata que a partir dos 15 anos o filho largou o futebol e se envolveu com drogas. O coordenador do Social Futebol Clube à época lembra que a história do garoto não é um caso isolado:
— Não teve continuidade e nem tínhamos condição financeira para trabalhar melhor isso. Mas está aí a necessidade que existe de o esporte estar presente na vida desses meninos para que não ocorram tragédias como essa. E elas acontecem quase que diariamente. O menino que está no esporte, quando chega na adolescência tem dois caminhos: um é ir para o esporte, aperfeiçoar estudos, o outro é o monstro que tá ali, que é o tráfico. As crianças não conseguem passar despercebidas depois dos 12 anos. Sofrem várias pressões disso.
Desde o momento em que colocaram os olhos nele, não precisava nem treinar. Chegava, botava a camisa e saia jogando. Mas ele colocou a carreira fora, tudo fora. Depois não quis mais e foi para outro lado. O lado que ele tá agora, da bandidagem.
MARION TEREZINHA SOARES CABRAL
Mãe
Marion, que mora no Interior, diz que não vê o filho desde o Dia das Mães e não sabe onde ele está. Menezes não mora mais na Bom Jesus e atualmente, segundo a polícia, perambula pelo Centro, onde tem quatro antecedentes por roubo a pedestre. A polícia procurou por Menezes na casa da mãe e na casa dos irmãos, na Região Metropolitana e segue atrás de pistas do seu paradeiro.
— A família desistiu dele, nem os irmãos deixam ele dormir em casa. Está perdido por causa da droga. E começou a roubar — diz o delegado.
Denuncie
Denúncias do paradeiro de Menezes podem ser feitas ao telefone 181 ou pelos números da 17ª DP: (51) 3224-4232, (51) 3211-3866 e (51) 3346-2299. A polícia garante sigilo absoluto do denunciante.